Nos últimos anos, a saúde mental tem ganho destaque nas discussões públicas e mediáticas, especialmente na sequência dos desafios impostos pela pandemia de COVID-19. Em Portugal, como em muitos outros países, o confinamento, o distanciamento social e a incerteza económica afetaram o bem-estar psicológico da população de forma significativa.
A saúde mental sempre foi um tema um tanto relegado para segundo plano, mas as circunstâncias pandémicas forçaram uma reavaliação das prioridades. O aumento dos índices de ansiedade, depressão e burnout exigiu uma resposta robusta e imediata do sistema de saúde. Porém, numa nação onde, até há pouco tempo, havia poucos psicólogos e psiquiatras disponíveis nos cuidados primários, as soluções não são tão simples.
Num estudo recente conduzido pela Ordem dos Psicólogos Portugueses, os resultados revelaram que uma percentagem substancial da população experienciou sintomas de stress em níveis nunca antes registados. A pandemia serviu como um catalisador para a discussão sobre a integração da saúde mental nos cuidados de saúde primários, destacando a necessidade de reformular a forma como o sistema de saúde mental opera.
Uma das soluções tem sido a criação de linhas de assistência psicológica gratuitas oferecidas pelo governo e ONGs, permitindo o acesso rápido a profissionais de saúde mental para quem precisa. Voluntários e profissionais têm se mobilizado para amenizar as consequências emocionais do isolamento e das perdas associadas ao COVID-19.
Os desafios, no entanto, não se limitam à escassez de serviços. Há um terreno cultural a ser desbravado, já que muitos portugueses ainda relutam em procurar ajuda psicológica devido ao estigma associado às doenças mentais. Iniciativas de sensibilização pública e educação são fundamentais para alterar perceções e encorajar mais pessoas a cuidarem do seu bem-estar psicológico sem medo de julgamento.
Paralelamente, surgem histórias de superação e resiliência emocional, em que a pandemia serviu como uma oportunidade para muitos desenvolverem novas estratégias de enfrentamento, recorrerem a redes de apoio comunitário ou reavaliarem as suas prioridades de vida.
A tecnologia também desempenha um papel crucial neste novo panorama, com a telepsicologia a tornar-se uma ferramenta essencial. As consultas online vieram para ficar, e muitos profissionais destacam a acessibilidade e conveniência que proporcionam para pacientes que, de outra forma, teriam dificuldades em agendar sessões presenciais.
O avanço da consciência sobre a saúde mental promete um futuro onde temas anteriormente tabu podem ser abordados com mais abertura. Contudo, é fundamental garantir que os serviços se mantenham acessíveis e que as afastadas zonas do país não sejam esquecidas.
Em última análise, a pandemia, apesar dos seus efeitos devastadores, pode servir como um ímpeto para uma mudança positiva na perceção e no tratamento da saúde mental em Portugal. As lições aprendidas e as histórias partilhadas ao longo deste período podem fortalecer a sociedade e prepará-la melhor para enfrentar futuras adversidades com um foco renovado no bem-estar mental e emocional.
Saúde mental em tempos de pandemia: desafios e soluções no contexto português
