Nos últimos anos, o avanço tecnológico tem revolucionado diversas áreas do nosso quotidiano, e a saúde é uma delas. Contudo, enquanto os benefícios são amplamente discutidos, os impactos negativos também estão a emergir, especialmente no que diz respeito à saúde mental das crianças.
Com a proliferação de dispositivos como smartphones e tablets, as crianças estão a ser expostas a tecnologias desde tenra idade. Este acesso precoce molda sua forma de interagir com o mundo, mas nem sempre de forma positiva. Estudos recentes sugerem que o uso excessivo de dispositivos digitais pode estar ligado ao aumento de casos de ansiedade e depressão infantil. Os dispositivos digitais, enquanto facilitadores de entretenimento e aprendizagem, também impõem desafios significativos à saúde mental, especialmente quando utilizados em excesso ou sem supervisão adequada.
A presença constante de notificações e a necessidade de estar sempre 'conectado' pode ser extremamente desgastante. O cérebro em desenvolvimento de uma criança pode enfrentar dificuldades em gerir a sobrecarga de informações e estímulos, afectando a capacidade de concentração e a qualidade do sono. Mais ainda, o uso desproporcional de redes sociais está associado a problemas de autoestima, uma vez que se torna comum a comparação social e a busca por validação através de 'gostos' e 'seguidores'.
Além disso, a pandemia provocada pela COVID-19 exacerbou esta situação, pois com a necessidade de confinamento domiciliário e a transição acelerada para o ensino digital, as crianças passaram a depender ainda mais das tecnologias para estudar e comunicar com os amigos. Enquanto isso, o suporte emocional muitas vezes necessário ficou distante, seja devido à falta de contacto humano direto ou pela dificuldade dos pais em lidar com as novas demandas.
Mas nem tudo é negativo. Quando usado de forma equilibrada, a tecnologia pode ser uma poderosa aliada. Existem aplicações e recursos educacionais online que estimulam o aprendizado e desenvolvem habilidades críticas. O acesso a jogos interativos pode estimular a criatividade e o raciocínio lógico, desde que sejam supervisionadas e escolhidas de forma adequada pelos pais.
Para mitigar os possíveis efeitos adversos da tecnologia na saúde mental infantil, é fundamental a implementação de estratégias eficazes tanto por parte dos pais como das escolas. Os adultos devem estar atentos aos sinais de distress nas crianças, impondo limites de tempo de uso dos dispositivos e promovendo atividades alternativas offline, como a leitura ou o desporto.
Além disso, as escolas desempenham um papel crucial na promoção de um equilíbrio saudável. A introdução de disciplinas que abordem a literacia digital e a gestão do tempo pode equipar as crianças com as ferramentas necessárias para navegar na era digital de forma segura e consciente.
Em última análise, o diálogo aberto e honesto sobre o uso da tecnologia é essencial. As crianças devem ser incentivadas a partilhar as suas experiências online com os adultos, criando um ambiente de confiança e suporte. É essencial que a sociedade reconheça o papel significativo que a tecnologia já desempenha na vida dos jovens e que, de forma coletiva, trabalhe para proteger e promover a sua saúde mental.
A tecnologia não é um inimigo, mas sim uma inevitável parte da nossa realidade actual. Com atenção e cuidado, pode ser uma oportunidade de crescimento e desenvolvimento, proporcionando às crianças não apenas habilidades técnicas, mas também a capacidade de enfrentar os desafios do futuro com resiliência e confiança.
O impacto da tecnologia na saúde mental das crianças
