Como a saúde mental se tornou o novo desafio das empresas em tempos de pandemia

Como a saúde mental se tornou o novo desafio das empresas em tempos de pandemia
Nos últimos anos, a saúde mental deixou de ser um tema apenas discutido em consultórios de psicologia ou nas páginas de revistas de nicho. Com a pandemia da COVID-19, não só os lares mas também as empresas se viram diante de uma nova realidade: a atenção à saúde mental dos seus colaboradores tornou-se uma necessidade urgente.

As pressões do confinamento, a incerteza económica e a migração para o teletrabalho intensificaram casos de ansiedade, depressão e burnout. De repente, não eram apenas os profissionais de saúde que estavam exaustos; advogados, professores e gestores entraram em modo de sobrevivência mental. Para muitos, a linha entre trabalho e descanso tornou-se invisível, transformando a sala de estar num escritório de 24 horas.

Empresas ao redor do mundo perceberam, muitas pela primeira vez, que o bem-estar mental dos seus funcionários é diretamente proporcional à produtividade e ao sucesso financeiro. Portanto, novas práticas foram implementadas. A introdução de dias de “folga mental”, a flexibilidade de horário e o acesso fácil a apoio psicológico começaram a fazer parte de diversas políticas internas.

Numa cultura empresarial que frequentemente promovia a ideia errada de que longas horas eram sinónimo de dedicação e sucesso, houve uma necessária quebra deste estigma. No entanto, a questão principal permanece: será suficiente? Ou será apenas uma resposta temporária a uma crise momentânea?

A situação de Portugal é particularmente intrigante. Sendo um dos países europeus onde o nível de trabalhadores que relatam estar sobrecarregados é elevado, as empresas portuguesas viram-se obrigadas a reavaliar suas práticas de gestão. Entre acordos sindicais e novas legislações, várias políticas nacionais começaram a incorporar a saúde mental nos seus artigos, um avanço significativo, mas ainda cheio de desafios práticos na aplicação.

O acesso à terapia continua caro, e, apesar das tentativas de digitalização, muitos serviços ainda oferecem soluções limitadas online. Empresas têm optado por startups inovadoras e aplicações móveis, que prometem desde meditações guiadas até sessões de terapia por vídeo. A aceitação dos colaboradores a estas soluções, contudo, varia, como todas as inovações tecnológicas enfrentam um grau de resistência, pelo hábito ou desconhecimento.

O estigma associado à saúde mental, embora diminuindo, resiste. Muitos ainda temem as repercussões profissionais de admitir necessitar de ajuda. Outro fator em jogo é o medo do que as chefias possam pensar ou transmitir aos colegas, numa cultura onde a aparência de resiliência ainda é glamorizada.

Contudo, há sinais de uma mudança cultural lenta mas firme. Mais eventos corporativos são dedicados à conscientização da saúde mental, treinamentos de liderança destacam a importância do apoio empático e testemunhos pessoais nas redes sociais estão a desbravar o caminho para um diálogo mais aberto e honesto.

A pergunta não é apenas como as empresas podem melhorar a saúde mental dos seus colaboradores, mas também sobre o papel que cada indivíduo, da administração ao iniciante, deve desempenhar nesta transformação. Talvez mais que políticas, o que realmente sustente essa mudança seja a criação de um ambiente onde a vulnerabilidade seja vista não como fraqueza, mas como força.

Em 2023, a discussão prossegue e, embora as crises humanitárias e socioeconómicas continuem a surgir, fica a esperança de que o legado desta pandemia seja uma sociedade mais consciente e solidária quanto aos desafios emocionais de todos nós.

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