A guerra silenciosa pelas redes móveis: como as operadoras estão a transformar o 5G em Portugal

A guerra silenciosa pelas redes móveis: como as operadoras estão a transformar o 5G em Portugal
Enquanto os consumidores discutem preços e pacotes de dados, uma batalha muito mais complexa está a ser travada nos bastidores das telecomunicações portuguesas. As três grandes operadoras – MEO, NOS e Vodafone – estão a investir milhões em infraestruturas que vão muito além da simples melhoria da velocidade de internet. O que está realmente em jogo é o controlo do que especialistas chamam de "o sistema nervoso digital" do país.

Nas últimas semanas, testemunhei algo extraordinário nos arredores de Lisboa: equipas de técnicos trabalhavam durante a noite para instalar pequenas antenas 5G em postes de iluminação, semáforos e até em monumentos históricos. Esta operação discreta faz parte de uma estratégia mais ampla que visa criar uma rede densa de pontos de acesso, essencial para suportar tecnologias como carros autónomos, cirurgias remotas e cidades inteligentes.

O que poucos percebem é que o 5G não é apenas uma evolução do 4G. Trata-se de uma mudança de paradigma que exige investimentos avultados em fibra ótica, centros de dados e equipamento especializado. Fontes dentro da ANACOM confirmaram-me que as operadoras já gastaram mais de 400 milhões de euros só em licenças de espectro, um valor que surpreendeu até os analistas mais otimistas.

Mas há um lado obscuro nesta corrida tecnológica. Várias autarquias queixam-se de falta de transparência nas instalações de antenas, enquanto grupos de cidadãos expressam preocupações com os efeitos na saúde – apesar de a comunidade científica internacional garantir que as emissões estão dentro dos limites de segurança. O verdadeiro problema, segundo especialistas em urbanismo, pode ser a poluição visual e a degradação do património arquitetónico.

A revolução do 5G está também a criar novas divisões territoriais. Enquanto as zonas urbanas beneficiam de cobertura quase total, muitas regiões do interior continuam com serviços básicos de internet. Esta desigualdade digital pode agravar o despovoamento e limitar o desenvolvimento económico de vastas áreas do país. Um estudo recente da Universidade do Minho alerta para o risco de criar "dois Portugais" – um conectado e outro esquecido.

As operadoras defendem-se argumentando que os investimentos têm de ser feitos onde existe maior densidade populacional para serem economicamente viáveis. No entanto, fontes do governo sugerem que podem ser impostos requisitos de cobertura rural como condição para futuras licenças. Esta medida, se implementada, poderá forçar as empresas a repensar as suas estratégias de expansão.

Outra frente desta guerra tecnológica envolve a segurança cibernética. Com milhares de novos dispositivos conectados através do 5G – desde sensores industriais a sistemas de saúde – aumenta exponencialmente o risco de ataques. Especialistas em cibersegurança alertam que Portugal ainda não está devidamente preparado para proteger infraestruturas críticas contra ameaças sofisticadas.

O setor empresarial mostra-se dividido. Por um lado, as grandes empresas antecipam ganhos de eficiência através da Internet das Coisas e da automação industrial. Por outro, as PME temem não ter capacidade financeira para acompanhar esta transformação digital. Associações comerciais já pediram ao governo programas de apoio específicos para ajudar as pequenas empresas nesta transição.

Curiosamente, a maior revolução pode não estar na velocidade, mas na latência – o tempo que os dados demoram a viajar entre dispositivos. A redução para milissegundos abre possibilidades antes impensáveis, como a realidade aumentada em tempo real e o controlo remoto de maquinaria pesada. Empresas portuguesas de gaming e entretenimento já estão a desenvolver produtos que tiram partido destas características.

O que me surpreendeu durante esta investigação foi descobrir que as operadoras estão a preparar-se para o pós-5G enquanto ainda implementam a tecnologia atual. Em laboratórios secretos em Aveiro e Braga, equipas de engenheiros já trabalham no 6G, previsto para chegar na próxima década. Esta corrida tecnológica não dá tréguas e exige investimentos contínuos que podem pressionar ainda mais as finanças das operadoras.

O consumidor final continua focando no preço, mas a verdadeira batalha acontece longe dos olhos do público. Nos próximos anos, veremos se as operadoras conseguem equilibrar a necessidade de inovação com a responsabilidade social, ou se o fosso digital se tornará uma fronteira intransponível entre regiões e classes sociais. Uma coisa é certa: a forma como nos conectamos está a mudar radicalmente, e Portugal não pode ficar para trás nesta transformação.

Subscreva gratuitamente

Terá acesso a conteúdo exclusivo, como descontos e promoções especiais do conteúdo que escolher:

Tags

  • 5G Portugal
  • Telecomunicações
  • Tecnologia Móvel
  • operadoras portuguesas
  • desigualdade digital