O paradoxo energético português: sol em abundância mas dependência fóssil persiste

O paradoxo energético português: sol em abundância mas dependência fóssil persiste
Portugal possui um dos maiores potenciais solares da Europa, com mais de 300 dias de sol por ano. No entanto, continua a importar mais de 70% da energia que consome. Esta contradição tornou-se um dos maiores desafios energéticos do país, num momento em que a transição verde se impõe como urgência climática e económica.

A recente crise geopolítica e a escalada dos preços dos combustíveis fósseis expuseram a vulnerabilidade do sistema energético nacional. Enquanto os nossos vizinhos europeus aceleram investimentos em energias renováveis, Portugal parece nadar contra a maré da sua própria geografia privilegiada.

Os dados mais recentes da Direção-Geral de Energia e Geologia revelam que apenas 15% do potencial solar nacional está aproveitado. Um desperdício que custa aos portugueses milhões de euros em importações de gás natural e petróleo, quando poderíamos estar a exportar energia limpa.

As comunidades locais começam a organizar-se em cooperativas energéticas, mas esbarram na burocracia e na falta de incentivos governamentais. No Alentejo, onde a radiação solar atinge níveis excecionais, os agricultores queixam-se da dificuldade em instalar painéis para autoconsumo.

O sector turístico, outro pilar da economia portuguesa, mostra-se particularmente interessado na energia solar. Hotéis e resorts investem cada vez mais em sistemas fotovoltaicos, não apenas por questões ambientais, mas como estratégia de redução de custos face à volatilidade dos preços da energia.

Os especialistas alertam para o risco de Portugal perder o comboio da revolução solar. Enquanto países como a Alemanha, com muito menos radiação solar, lideram a produção de energia fotovoltaica na Europa, nós continuamos a debater-se com licenças que demoram meses a ser aprovadas.

As oportunidades de negócio multiplicam-se: desde a produção de hidrogénio verde até à dessalinização de água do mar usando energia solar. Startups portuguesas desenvolvem tecnologias inovadoras, mas muitas acabam por se estabelecer no estrangeiro onde encontram melhores condições de investimento.

O armazenamento de energia emerge como peça fundamental neste puzzle. As baterias de grande capacidade e as soluções de bombeamento hidroelétrico poderiam transformar Portugal numa potência energética, capaz de fornecer electricidade mesmo durante a noite.

Os cidadãos mostram-se cada vez mais conscientes da importância da transição energética. Inquéritos recentes indicam que 85% dos portugueses consideram as alterações climáticas uma ameaça grave e apoiam o investimento em energias renováveis.

O caminho para a independência energética passa inevitavelmente pelo sol. Resta saber se teremos a visão e a coragem política para aproveitar esta riqueza que nos cai do céu literalmente todos os dias.

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