O boom da energia solar em Portugal: como o país se tornou um caso de estudo europeu

O boom da energia solar em Portugal: como o país se tornou um caso de estudo europeu
Nos últimos três anos, Portugal transformou-se num laboratório vivo de transição energética. Enquanto a Europa debate diretivas e metas para 2030, os portugueses já estão a instalar painéis solares a um ritmo que surpreende até os mais otimistas. O que começou como um movimento discreto nos telhados das zonas rurais tornou-se uma revolução silenciosa que está a redefinir não apenas a matriz energética nacional, mas toda a economia do setor.

Os números falam por si: em 2023, Portugal atingiu 2,5 GW de capacidade solar instalada, um aumento de 40% face ao ano anterior. Este crescimento explosivo coloca o país no topo da tabela europeia em termos de penetração per capita de energia solar. Mas mais impressionante que as estatísticas é a forma como esta transformação está a acontecer - não através de megaprojetos centralizados, mas sim através de milhares de pequenas instalações descentralizadas.

O segredo deste sucesso está numa combinação única de fatores: um regime de horas de sol entre os mais generosos da Europa, políticas públicas visionárias e um ecossistema empresarial que soube responder com agilidade às novas oportunidades. O programa de apoio à autoprodução, lançado em 2019, foi o catalisador que faltava para democratizar o acesso à energia solar, permitindo que famílias e pequenas empresas se tornassem simultaneamente consumidores e produtores de energia.

Nos armazéns industriais da periferia de Lisboa até às quintas alentejanas, os painéis fotovoltaicos tornaram-se uma paisagem comum. Mas a verdadeira revolução está a acontecer nos centros urbanos, onde os condomínios horizontais e verticais descobriram o potencial das comunidades de energia. Estes modelos coletivos permitem que vários consumidores partilhem a mesma instalação solar, ultrapassando uma das maiores barreiras à adoção da tecnologia: o espaço disponível.

O setor empresarial não ficou indiferente a esta tendência. Das grandes superfícies comerciais às PMEs, a energia solar tornou-se não apenas uma questão de responsabilidade ambiental, mas sobretudo de competitividade económica. Com os preços da eletricidade a baterem recordes históricos em 2022, o retorno do investimento em painéis solares reduziu-se de 7 para menos de 4 anos, tornando-o irresistível para qualquer gestor com visão.

Esta corrida ao sol trouxe consigo desafios inesperados. A capacidade de fabrico e instalação está sob pressão, com listas de espera que chegam aos 6 meses para algumas empresas do setor. A escassez de técnicos qualificados levou a que salários na área da instalação solar subissem 25% no último ano, criando uma nova geração de "profissionais verdes" altamente valorizados.

O sucesso português não passou despercebido no panorama internacional. Investidores estrangeiros estão a entrar no mercado nacional a um ritmo acelerado, adquirindo tanto projetos em desenvolvimento como empresas instaladoras estabelecidas. Este interesse global trouxe capital e know-how, mas também levantou questões sobre a manutenção da soberania energética nacional.

O próximo capítulo desta história está a ser escrito nas baterias de armazenamento. À medida que a produção solar aumenta, a capacidade de guardar a energia excedente torna-se crítica. Projetos piloto por todo o país estão a testar diferentes tecnologias de armazenamento, desde baterias de ião-lítio até soluções mais inovadoras como o hidrogénio verde.

O que torna o caso português particularmente interessante é como conseguiu alinhar interesses diversos: ambientais, económicos e sociais. Enquanto outros países debatem os custos da transição energética, Portugal está a demonstrar que ela pode ser um motor de crescimento e criação de emprego. A energia solar já emprega diretamente mais de 15.000 pessoas no país, um número que deverá duplicar até 2025.

O futuro reserva desafios complexos, desde a modernização das redes de distribuição até à integração inteligente das diferentes fontes renováveis. Mas se o passado recente serve de indicador, Portugal parece ter encontrado o seu caminho particular para a descarbonização - um caminho iluminado pelo sol.

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