Os portugueses estão a pagar mais pelos seguros automóvel, mas poucos sabem porquê. Enquanto o custo de vida dispara, as apólices seguem o mesmo caminho, deixando muitos condutores a questionar-se sobre o que realmente está por trás destes aumentos. A verdade é mais complexa do que as explicações simplistas sobre a inflação.
As seguradoras argumentam com os custos dos sinistros, mas os dados contam uma história diferente. Um mergulho nos relatórios da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões revela que as indemnizações por acidentes automóveis têm vindo a descer nos últimos três anos, enquanto os prémios continuam a subir. Esta discrepância levanta questões sérias sobre a transparência do setor.
O fenómeno dos "sinistros fantasma" tornou-se uma praga silenciosa. Seguradoras e oficinas coludem para inflacionar reparações, criando danos inexistentes ou ampliando pequenos riscos em prejuízos avultados. Estas práticas, embora ilegais, são difíceis de provar e mais difíceis ainda de combater. O resultado? Todos pagamos a conta.
A digitalização trouxe eficiência, mas também novas formas de discriminação. Os algoritmos que calculam os prémios usam critérios obscuros que penalizam certos grupos. Quem vive em bairros considerados "de risco", mesmo sem histórico de sinistros, paga automaticamente mais. Jovens condutores são tratados como estatísticas perigosas, independentemente do seu comportamento real ao volante.
As coberturas opcionais tornaram-se armadilhas bem disfarçadas. Assistência em viagem, vidros ou danos próprios são vendidos como indispensáveis, mas a letra pequena esconde limitações que tornam estas proteções quase inúteis. Muitos clientes só descobrem as falhas quando precisam realmente do seguro.
A guerra entre as seguradoras tradicionais e as insurtechs está a aquecer. As novas empresas prometem preços mais baixos através da tecnologia, mas será que cumprem? A análise dos contratos mostra que as economias iniciais muitas vezes escondem coberturas reduzidas e exclusões criativas. O barato pode sair caro quando o acidente acontece.
Os portugueses têm o direito de saber que existem alternativas. A comparação entre seguradoras não é suficiente; é necessário entender as nuances de cada apólice. Pequenas diferenças nas coberturas podem significar milhares de euros em caso de sinistro grave.
A regulação do setor precisa de evoluir. As autoridades supervisionam os preços, mas não a qualidade das coberturas. Enquanto isso, os consumidores navegam num mar de informação incompleta, tomando decisões baseadas no preço em vez da proteção real.
O futuro dos seguros automóvel passa pela transparência radical. Tecnologias como blockchain poderiam criar registos imutáveis de sinistros, combatendo a fraude. Sistemas de telemetria justos poderiam recompensar os bons condutores em vez de penalizar grupos inteiros.
Enquanto isso, os condutores portugueses precisam de se tornar consumidores informados. Ler a letra pequena, questionar as exclusões e comparar coberturas em vez de apenas preços são passos essenciais. O seguro não é um mal necessário; é uma proteção que deve cumprir o que promete.
As seguradoras que entenderem esta mudança de mentalidade sairão a ganhar. A confiança é o ativo mais valioso neste setor, e quem a conquistar através da transparência e justiça nos preços dominará o mercado nos próximos anos.
Seguros automóvel em Portugal: o que as seguradoras não contam sobre os preços em 2024
