Seguro automóvel: o que ninguém te conta sobre os truques das seguradoras

Seguro automóvel: o que ninguém te conta sobre os truques das seguradoras
A indústria dos seguros automóveis em Portugal é um labirinto de cláusulas escondidas, letras pequenas e promessas que se desvanecem quando mais precisamos delas. Enquanto os portugueses desembolsam centenas de euros anualmente para proteger os seus veículos, as seguradoras aperfeiçoam estratégias para minimizar indemnizações e maximizar lucros. Esta investigação revela os segredos mais bem guardados do sector.

Os peritos alertam: 78% dos condutores não lêem as condições gerais dos seus seguros. Nestes documentos, que podem chegar às 40 páginas, escondem-se limitações de cobertura que só descobrimos quando ocorre um sinistro. As exclusões por "uso inadequado do veículo" são particularmente vagas - uma expressão que permite interpretações convenientes para as seguradoras.

As apólices de baixo custo são uma armadilha perigosa. Oferecem preços irresistíveis mas, na hora da verdade, revelam coberturas tão básicas que deixam os clientes literalmente a pé. Muitas não incluem assistência em viagem, vidros ou sequer danos próprios completos. Os especialistas recomendam sempre comparar o preço com as coberturas efectivas.

O mercado português vive uma dualidade preocupante: enquanto as grandes seguradoras aumentam prémios com a desculpa dos custos operacionais, as mais pequenas praticam preços agressivos que muitas vezes escondem serviços deficitários. A Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) recebeu no último ano mais de 1200 reclamações relacionadas com seguros automóveis.

A digitalização trouxe novas armadilhas. Os comparadores online, aparentemente transparentes, recebem comissões das seguradoras que afectam a ordem dos resultados. Muitos não mostram todas as opções disponíveis no mercado, apenas as que lhes são mais rentáveis. Os consumidores ficam com uma falsa sensação de escolha informada.

Os sinistros são o momento da verdade - e onde as estratégias de contenção de custos se revelam mais cruéis. As peritagens tendem a subavaliar os danos, as oficinas convencionadas usam peças de qualidade inferior e os prazos de reparação alongam-se além do razoável. Muitos clientes aceitam valores abaixo do justo por cansaço ou falta de alternativas.

A inflação afectou dramaticamente os custos de reparação, mas as seguradoras resistem a actualizar as tabelas de indemnização. Um para-choques que custava 300 euros há dois anos pode valer 450 hoje, mas as seguradoras continuam a pagar como se nada tivesse mudado. Esta defasagem custa milhões aos portugueses anualmente.

Os condutores jovens são as vítimas preferidas deste sistema. Pagam prémios exorbitantes - por vezes superiores ao valor do próprio carro - com a justificação estatística do maior risco. No entanto, raramente lhes é explicado que existem formas de reduzir estes custos através de telemetria ou seguros por quilómetro.

As coberturas adicionales representam outro campo minado. Os seguros contra danos próprios, assistência em viagem ou protecção jurídica são vendidos como indispensáveis, mas muitos clientes pagam por serviços que nunca utilizarão. A chave está em personalizar a apólice consoante as reais necessidades.

O futuro traz novas complexidades. Os carros eléctricos e autónomos desafiam os modelos tradicionais de seguro. As baterias, que representam 40% do valor destes veículos, têm coberturas específicas que muitos proprietários ignoram. E quem é responsável quando um carro autónomo causa um acidente? A legislação ainda não responde a esta questão.

A transparência é a maior vítima deste sistema. As seguradoras investem mais em marketing do que em educação dos consumidores. Os documentos são deliberadamente complexos, a linguagem técnica intimida e a pressão temporal impede leituras cuidadosas. Resultado: os portugueses pagam por protecção que, muitas vezes, existe apenas no papel.

As soluções existem, mas exigem consciencialização. Ler as condições gerais antes de assinar, comparar não apenas preços mas coberturas, questionar cláusulas obscuras e recorrer à ASF em caso de dúvida são passos essenciais. O seguro automóvel não deve ser um salto no escuro, mas uma decisão informada.

Este é um mercado que precisa de maior regulação e supervisão. Enquanto as seguradoras priorizarem o lucro sobre a protecção dos clientes, os condutores portugueses continuarão a conduzir numa falsa sensação de segurança. A verdadeira protecção começa com informação - e é tempo de exigir transparência total.

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