Seguro automóvel: o que as seguradoras não contam sobre os novos riscos digitais

Seguro automóvel: o que as seguradoras não contam sobre os novos riscos digitais
Quando pensamos em seguro automóvel, a mente viaja para colisões, furtos ou danos naturais. Mas há uma nova fronteira de riscos que está a passar despercebida aos condutores portugueses, enquanto as seguradoras ajustam silenciosamente as suas apólices. A digitalização dos veículos trouxe conveniências inimagináveis há uma década, mas também abriu portas a vulnerabilidades que poucos anteciparam.

Os carros modernos são, na prática, computadores sobre rodas. Um veículo conectado pode ter até 150 milhões de linhas de código – mais do que um avião comercial. Esta complexidade tecnológica cria brechas que hackers exploram com crescente sofisticação. Em 2023, investigadores demonstraram como poderiam desativar remotamente os travões de um SUV premium enquanto circulava a 110 km/h na autoestrada. O cenário parece saído de um filme de ficção científica, mas é uma realidade que as seguradoras começam a contabilizar.

A verdade inconveniente é que muitas apólices tradicionais não cobrem adequadamente os danos resultantes de ciberataques. Se um hacker bloquear o sistema de entretenimento do seu carro e exigir um resgate em bitcoin, quem paga? Se um malware corromper os sensores de estacionamento e causar um acidente, a culpa é do condutor ou do fabricante? Estas questões estão a criar dores de cabeça jurídicas que se refletem nas letras pequenas dos contratos.

As seguradoras mais avançadas já estão a desenvolver produtos específicos para esta nova realidade. Algumas oferecem coberturas para 'sequestro digital' do veículo, perda de dados pessoais armazenados nos sistemas do carro, e até assistência técnica especializada em desinfeção digital. Mas estas opções raramente são apresentadas de forma proativa aos clientes – é preciso perguntar, insistir, e por vezes pagar um suplemento significativo.

O paradoxo da conectividade revela-se nas estatísticas: quanto mais 'inteligente' é o seu carro, mais exposto está a ameaças digitais. Os veículos elétricos, com os seus sistemas de gestão de bateria permanentemente online, são particularmente vulneráveis. Um ataque coordenado poderia, em teoria, drenar múltiplas baterias simultaneamente numa determinada área, criando caos na mobilidade urbana.

Os especialistas em cibersegurança automóvel alertam para um cenário preocupante: a maioria dos condutores desconhece que o seu veículo pode ser hackeado através de algo tão simples como o sistema de infoentretenimento. Muitas vezes, estas brechas surgem através de aplicações de terceiros que se conectam ao carro, ou até de pontos de acesso Wi-Fi públicos onde o veículo se conecta automaticamente.

As seguradoras enfrentam um dilema ético: devem alertar os clientes para estas vulnerabilidades, arriscando criar pânico, ou manter um silêncio prudente enquanto desenvolvem soluções? A tendência, observada nas comunicações mais recentes das principais companhias, aponta para uma abordagem gradual – mencionam os riscos digitais sem entrar em detalhes alarmantes, enquanto preparam produtos específicos que serão lançados quando o mercado estiver 'maduro' para os aceitar.

O consumidor informado tem agora uma nova variável a considerar na escolha do seguro automóvel. Para além do preço e das coberturas tradicionais, vale a pena perguntar: esta apólice protege-me contra ameaças digitais? Inclui assistência especializada em cibersegurança? Cobre os danos resultantes de falhas de software?

A revolução digital dos automóveis não trouxe apenas ecrãs tácteis e atualizações over-the-air. Trouxe uma nova camada de riscos que está a redefinir o conceito de proteção automóvel. As seguradoras que entenderem esta mudança primeiro ganharão uma vantagem competitiva significativa. Os condutores que se informarem sobre estas novas realidades evitarão surpresas desagradáveis quando – não se, mas quando – a era dos acidentes digitais chegar em força às estradas portuguesas.

O futuro do seguro automóvel será híbrido: metade mecânico, metade digital. As apólices começarão a incluir verificações regulares de segurança digital do veículo, tal como hoje incluem inspeções periódicas. Os prémios poderão variar consoante o nível de proteção cibernética do carro, e os sinistros digitais terão processos de resolução completamente diferentes dos acidentes físicos.

Enquanto isso, nas salas de reuniões das seguradoras, actuários e especialistas em TI trabalham lado a lado para quantificar o incalculável: qual o valor de um byte corrompido que travou um carro a alta velocidade? Como precificar o risco de um ataque coordenado a frotas inteiras? Estas são as perguntas que estão a moldar o seguro automóvel do amanhã – um amanhã que, para muitos condutores, já chegou sem que se tenham apercebido.

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