O segredo que as seguradoras não querem que saibas: como os dados do teu carro podem baixar (ou aumentar) o prémio do seguro

O segredo que as seguradoras não querem que saibas: como os dados do teu carro podem baixar (ou aumentar) o prémio do seguro
Imagina um mundo onde cada curva que fazes, cada travagem brusca e cada quilómetro percorrido são analisados por um algoritmo invisível. Não é ficção científica – é a realidade dos seguros automóveis em 2024. Enquanto navegas pelas estradas portuguesas, dezenas de sensores no teu veículo estão a recolher dados que vão muito além do simples consumo de combustível.

Nas redações dos principais meios de comunicação económica, os especialistas começam a desvendar este novo paradigma. O que começou como uma ferramenta para premiar os condutores mais cuidadosos transformou-se num complexo sistema de vigilância que pode determinar quem paga menos – e quem fica excluído do mercado.

A verdade é que a maioria dos portugueses desconhece que o seu estilo de condução está a ser constantemente avaliado. As seguradoras utilizam agora telemetria avançada, cruzando dados do veículo com informações sobre o trânsito, meteorologia e até o comportamento histórico em zonas específicas. Um condutor que evita regularmente a A5 nas horas de ponta pode ter um perfil diferente de quem enfrenta diariamente o caos da Segunda Circular.

Mas há um lado sombrio nesta revolução dos dados. Investigações recentes revelam que alguns algoritmos podem estar a discriminar condutores com base em fatores que nada têm a ver com a sua capacidade ao volante. O bairro onde vives, a profissão que exerces ou até o modelo do teu telemóvel podem influenciar o cálculo do prémio. É como se cada um de nós carregasse uma espécie de «pontuação de risco» invisível que flutua conforme os dados que produzimos.

Os especialistas em proteção de dados estão em alerta máximo. A nova legislação europeia tenta estabelecer limites, mas as seguradoras encontram sempre brechas criativas. Um exemplo: podem não perguntar diretamente sobre os teus hábitos noturnos, mas se os dados do GPS mostrarem que circulas frequentemente entre a 1h e as 5h da manhã, isso será considerado no cálculo do risco.

O paradoxo é fascinante. Por um lado, a tecnologia permite que condutores exemplares paguem significativamente menos – há casos documentados de reduções superiores a 40%. Por outro, cria uma sociedade de «condutores transparentes» onde cada ação ao volante pode ter consequências financeiras. Até a forma como aqueces o motor numa manhã de inverno pode ser analisada.

As seguradoras mais inovadoras já testam sistemas que vão além da condução. Analisam como manténs o veículo, se cumpris as revisões programadas, até a pressão dos pneus é monitorizada em alguns modelos conectados. É um ecossistema completo de vigilância voluntária, onde trocamos privacidade por potenciais poupanças.

Mas há esperança para quem quer manter algum controlo. Especialistas recomendam três estratégias: primeiro, conhecer exatamente que dados estão a ser recolhidos pelo dispositivo da seguradora; segundo, negociar periodicamente os termos de partilha de informação; terceiro, diversificar as cotações entre seguradoras tradicionais e as novas baseadas em telemetria.

O futuro já chegou ao setor automóvel, e traz consigo dilemas éticos profundos. Até que ponto estamos dispostos a ser monitorizados para pagar menos? Como evitar que estes sistemas criem novas formas de discriminação? As respostas estão a ser escritas agora, quilómetro a quilómetro, nas estradas de Portugal.

O que parece claro é que a era do seguro como produto estático acabou. Agora é um serviço dinâmico, que se adapta constantemente ao nosso comportamento. Resta saber se seremos condutores ou dados com volante nas mãos.

Subscreva gratuitamente

Terá acesso a conteúdo exclusivo, como descontos e promoções especiais do conteúdo que escolher:

Tags

  • seguro auto
  • telemetria
  • proteção de dados
  • condução
  • algoritmos