Quando adotamos um cão ou gato, imaginamos uma vida de brincadeiras e carinhos. Raramente pensamos nas emergências veterinárias que podem custar centenas, ou mesmo milhares, de euros. Os seguros para animais prometem paz de espírito, mas nas letras pequenas escondem-se armadilhas que deixam muitos donos desprotegidos precisamente quando mais precisam.
A primeira grande ilusão é a cobertura "completa". A maioria dos seguros exclui condições pré-existentes, mesmo aquelas que o dono desconhecia no momento da contratação. Um exemplo comum: o seu cão desenvolve uma doença cardíaca aos 8 anos. A seguradora investiga e descobre que, aos 2 anos, teve um sopro cardíaco mínimo detetado numa consulta de rotina. Resultado: a doença é considerada pré-existente e não é coberta.
As raças ditas "perigosas" ou com predisposição genética para certas doenças enfrentam barreiras ainda maiores. Cães como Rottweilers, Dogues Argentinos ou até Bulldogs Franceses muitas vezes têm prémios mais altos ou coberturas limitadas para problemas articulares e respiratórios típicos da raça. É uma discriminação silenciosa baseada na genética, não no histórico individual do animal.
Outra armadilha pouco falada são os limites anuais por doença. Imagine que o seu gato é diagnosticado com diabetes. O seguro cobre 1000 euros por ano para esta condição, mas o tratamento contínuo com insulinas, consultas especializadas e exames regulares facilmente ultrapassa esse valor. O dono fica com uma falsa sensação de segurança, só para descobrir que a cobertura é insuficiente quando a doença se torna crónica.
Os tratamentos dentários são outra área cinzenta. A maioria dos seguros cobre extrações dentárias por doença, mas não a limpeza dentária de rotina ou tratamentos ortodônticos. Um cão com tártaro avançado que precise de múltiplas extrações pode ter o procedimento coberto, mas a prevenção que poderia evitar o problema raramente está incluída. É o paradoxo do sistema: paga-se a doença, mas não a saúde.
As terapias alternativas estão quase sempre de fora. Acupuntura, fisioterapia, hidroterapia ou tratamentos com células estaminais – cada vez mais comuns em medicina veterinária avançada – são considerados "experimentais" ou "complementares" pela maioria das seguradoras. Donos que procuram opções menos invasivas para artrites ou recuperação pós-cirúrgica descobrem que têm de pagar do próprio bolso.
O factor idade é talvez o mais cruel. À medida que os animais envelhecem e mais precisam de cuidados, as seguradoras aumentam os prémios exponencialmente ou simplesmente recusam renovar as apólices. Muitos donos de animais idosos enfrentam o dilema de pagar prémios proibitivos ou arriscar-se a ficar sem cobertura quando o seu companheiro tem mais probabilidade de desenvolver problemas de saúde.
As exclusões comportamentais são particularmente traiçoeiras. Um cão que desenvolve ansiedade por separação e destrói móveis pode não ter o tratamento comportamental coberto se a seguradora considerar que se trata de um "problema de treino" e não médico. O mesmo acontece com animais que desenvolvem agressividade por dor não diagnosticada – tratam-se os sintomas comportamentais, não a causa subjacente.
A solução? Ler as exclusões com lupa antes de assinar. Perguntar especificamente sobre condições crónicas, limites por doença, tratamentos preventivos e políticas para animais idosos. Manter um fundo de emergência paralelo ao seguro, porque mesmo as melhores apólices têm lacunas. E acima de tudo, pressionar por mais transparência num setor que cresce 20% ao ano em Portugal, mas mantém as suas regras obscuras.
No final, o seguro para animais deve ser um parceiro na saúde do seu companheiro, não um adversário em negociações burocráticas. Até que as práticas mudem, cabe aos donos desvendar o que realmente está coberto – e o que fica de fora quando o seu melhor amigo mais precisa.
Seguro para animais de estimação: o que ninguém te conta sobre as exclusões escondidas