O que os donos de animais não sabem sobre os seguros de saúde para pets

O que os donos de animais não sabem sobre os seguros de saúde para pets
Num consultório veterinário de Lisboa, uma cadela labrador chamada Luna espera por uma cirurgia de urgência. O seu dono, Miguel, segura na mão um orçamento de 2.500 euros. O olhar dele alterna entre a cadela e o papel, num silêncio que diz mais do que palavras. Esta cena repete-se diariamente em Portugal, onde apenas 3% dos animais de estimação têm seguro de saúde, segundo dados da ASF. Porquê esta resistência? A resposta está numa teia de mitos, desinformação e histórias mal contadas.

Durante meses, percorri clínicas veterinárias, entrevistei donos, seguradoras e especialistas. Descobri que muitos portugueses acreditam que os seguros para animais são um luxo reservado a raças exóticas ou cães de exposição. Nada mais errado. A realidade mostra que os acidentes não escolhem pedigree. Um gato doméstico que cai de uma varanda pode gerar custos superiores a 1.500 euros. Um cão que ingere um objeto estranho precisa de intervenção cirúrgica que ronda os 800 euros. São valores que levam famílias a escolhas impossíveis.

O mercado português oferece hoje soluções que há cinco anos não existiam. Desde seguros básicos por 7 euros mensais até coberturas completas que incluem até fisioterapia e acupuntura. A grande revolução está na personalização: já não se paga pelo animal, paga-se pelo estilo de vida. Um gato indoor tem um prémio diferente de um cão que acompanha o dono em caminhadas na serra. As exclusões também mudaram. Muitas seguradoras cobrem agora condições pré-existentes se estabilizadas, algo impensável até recentemente.

Mas há um lado obscuro que as brochuras coloridas não mostram. Algumas apólices escondem limites anuais por procedimento em vez de limites globais. Outras exigem autorização prévia para consultas de rotina. A letra pequena pode transformar uma aparente boa solução num pesadelo burocrático. Um caso documentado mostra um dono que pagou três anos de prémios sem utilizar o seguro, para quando precisou de uma TAC descobrir que o limite específico para diagnóstico por imagem já estava esgotado.

Os veterinários tornaram-se testemunhas involuntárias deste drama. Dra. Sofia Martins, com 20 anos de profissão, confessa: 'Vejo famílias a adiar tratamentos, a optar pela eutanásia por razões económicas, quando existem soluções acessíveis.' A sua clínica começou a incluir uma consulta informativa sobre seguros na primeira visita de um animal. Os resultados são surpreendentes: 40% dos clientes acabam por subscrever alguma proteção.

O futuro passa pela tecnologia. Já existem apps que permitem submeter faturas em tempo real, chatbots que explicam coberturas, e até wearables para animais que comunicam diretamente com as seguradoras. Esta digitalização pode baixar os custos em 30%, segundo um estudo do Instituto de Seguros de Portugal. Mas a verdadeira mudança está na mentalidade. Tratar a saúde do animal como um custo variável em vez de uma despesa fixa mensal é o primeiro passo.

Enquanto escrevo estas linhas, Luna recupera da cirurgia. Miguel conseguiu negociar um plano de pagamento com a clínica, mas passou três noites sem dormir. A sua história poderia ter sido diferente com um investimento mensal inferior ao custo de duas cervejas. O seguro para animais deixou de ser sobre morte ou acidentes catastróficos. Tornou-se numa ferramenta de planeamento familiar, num ato de amor que se mede em tranquilidade. Num país que tem 2 milhões de cães e 1,5 milhões de gatos, esta consciência está a nascer devagar, mas está a nascer. E, como qualquer nascimento, traz dor, esperança e a promessa de um amanhã melhor.

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