O seu animal de estimação coça-se incessantemente? Tem problemas digestivos recorrentes? Muitos tutores atribuem estes sintomas a parasitas ou stress, mas a verdadeira culpada pode estar na tigela de comida. As alergias alimentares em cães e gatos representam um dos problemas mais subdiagnosticados na medicina veterinária, afectando cerca de 10% dos animais de companhia em Portugal.
Os sinais nem sempre são óbvios. Enquanto alguns animais desenvolvem erupções cutâneas visíveis, outros manifestam sintomas subtis como lambedura excessiva das patas, otites recorrentes ou mesmo alterações comportamentais. Um estudo recente da Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa revelou que 65% dos casos de alergias alimentares foram inicialmente diagnosticados erroneamente como dermatites comuns.
As proteínas animais lideram a lista de alergénios mais frequentes. Carne bovina, frango, lacticínios e ovos desencadeiam 80% das reacções alérgicas em cães, enquanto os gatos mostram particular sensibilidade ao peixe e aos cereais. Curiosamente, muitos animais desenvolvem alergias após anos a consumir o mesmo alimento sem problemas aparentes – um fenómeno que desconcierta até os veterinários mais experientes.
O diagnóstico requer paciência e método científico. A eliminação dietética, considerada o padrão-ouro para detectar alergias alimentares, implica alimentar o animal com uma dieta hipoalergénica durante 8 a 12 semanas. Este processo meticuloso, muitas vezes frustrante para os tutores, é a única forma de identificar com precisão o ingrediente culpado.
As implicações financeiras são significativas. Donos de animais alérgicos gastam em média 40% mais em consultas veterinárias e medicamentos do que aqueles com animais sem alergias. Muitos recorrem a alimentos especiais que podem custar até três vezes mais do que a ração convencional, um encargo que poucos antecipam quando decidem adoptar um animal.
A indústria de alimentos para animais respondeu com uma explosão de produtos "hipoalergénicos", mas nem todos cumprem o prometido. Algumas marcas utilizam proteínas hidrolisadas – quebradas em partículas minúsculas para evitar a reacção imunitária – enquanto outras optam por fontes proteicas exóticas como canguru, javali ou insectos. A eficácia varia consoante a sensibilidade individual de cada animal.
Os tratamentos alternativos ganham terreno entre os tutores mais desconfiados. Dietas caseiras supervisionadas por nutricionistas veterinários, suplementos probióticos e até acupunctura surgem como opções para animais que não respondem às terapias convencionais. A comunidade científica mantém-se dividida quanto à eficácia destas abordagens, mas os testemunhos de sucesso multiplicam-se nas redes sociais.
A prevenção permanece a melhor estratégia. Especialistas recomendam a introdução gradual de novos alimentos, a rotação de proteínas e a vigilância constante dos sinais de intolerância. Um animal alimentado com diversidade desde jovem tem menor probabilidade de desenvolver alergias severas na idade adulta.
O futuro traz esperança através da investigação genética. Cientistas estão a mapear os marcadores genéticos associados a predisposição para alergias, o que poderá permitir testes preditivos e dietas personalizadas. Enquanto isso, a melhor arma continua a ser a observação atenta – conhecer o animal melhor do que ninguém pode fazer a diferença entre meses de sofrimento e uma solução rápida.
As alergias alimentares não são uma sentença de vida. Com diagnóstico adequado e gestão cuidadosa, a maioria dos animais pode levar uma vida perfeitamente normal. O segredo está em não normalizar o desconforto – porque coçar-se ocasionalmente pode ser normal, mas coçar-se constantemente é sempre um sinal de alerta.
Cães e gatos com alergias alimentares: sinais subtis que muitos donos ignoram
