Quando adotamos um animal de estimação, raramente pensamos nos custos inesperados que podem surgir. Aquele olhar doce e a cauda a abanar escondem uma realidade que muitos tutores só descobrem quando é tarde demais: os cuidados veterinários em Portugal podem custar mais do que um carro usado.
Na última década, as despesas com saúde animal aumentaram 47% em Portugal, segundo dados da Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica Veterinária. Enquanto isso, apenas 15% dos animais de companhia no país têm algum tipo de seguro. Os números contam uma história de despreparo que deixa milhares de famílias em situações financeiras complicadas.
O caso de Leonor, uma professora de 34 anos do Porto, ilustra bem este problema. O seu cão, Bóris, desenvolveu uma doença autoimune que exigiu tratamentos especializados durante seis meses. "Gastei mais de 3000 euros em veterinários. Tive de pedir um empréstimo ao banco", conta, com a voz ainda a tremer. Histórias como esta repetem-se em consultórios por todo o país.
Mas porque é que os portugueses resistem tanto aos seguros para animais? A resposta parece estar numa combinação perigosa de desconhecimento e mitos urbanos. Muitos acreditam que estes seguros são caríssimos, quando na realidade começam nos 10 euros mensais para coberturas básicas. Outros pensam que só compensam para animais idosos, ignorando que os acidentes não escolhem idades.
A verdade é que os seguros para animais funcionam como uma rede de segurança que pode evitar escolhas dolorosas entre a saúde financeira da família e o bem-estar do animal. Desde fraturas até doenças crónicas, as coberturas variam conforme as necessidades e o orçamento de cada tutor.
Um dos aspectos mais negligenciados é a cobertura de cuidados preventivos. Muitas apólices incluem vacinas, desparasitações e consultas de rotina, ajudando a detetar problemas antes que se tornem emergências médicas e financeiras. É a diferença entre tratar uma infeção urinária simples e enfrentar uma insuficiência renal crónica.
As exclusões são outro ponto crucial que merece atenção. Condições pré-existentes, tratamentos dentários cosméticos e doenças hereditárias de certas raças podem não estar cobertas. Ler as letras pequenas não é burocracia – é salvar o seu companheiro de quatro patas e a sua carteira.
Para animais com necessidades especiais ou idosos, existem opções adaptadas que, embora mais caras, podem significar a diferença entre a vida e a morte. O importante é comparar, questionar e não ter medo de pedir esclarecimentos. Um bom corretor de seguros especializado em animais vale o seu peso em ouro.
As seguradoras também evoluíram nos últimos anos. Hoje oferecem desde telemedicina veterinária até programas de nutrição personalizada. Algumas incluem até cobertura para perda ou roubo do animal, um aspeto que poucos consideram mas que pode salvar vidas.
O momento ideal para contratar um seguro? Imediatamente após a adoção ou compra. Quanto mais novo o animal, menores os prémios e maior a probabilidade de cobertura total. Esperar pelo primeiro problema de saúde é como tentar comprar um guarda-chuva durante um temporal.
Os especialistas recomendam fazer três orçamentos de diferentes seguradoras, comparar não apenas preços mas também coberturas, e consultar o livro de reclamações online da ASF para ver o histórico de cada empresa. A pressa é inimiga da boa contratação.
No final, o seguro para animais não é um luxo – é uma responsabilidade. Tal como colocamos o cinto de segurança no carro sem pensar que vamos ter um acidente, devemos proteger os nossos companheiros antes que a necessidade apareça. Porque o amor pelos nossos animais merece mais do que boas intenções – merece planeamento e ação.
A próxima vez que o seu animal o olhar com aquela confiança absoluta, pergunte-se: estou a fazer tudo o que posso para honrar essa confiança? A resposta pode estar num documento que cabe na gaveta, mas que vale mais do que todo o ouro do mundo quando a emergência bate à porta.
A verdade sobre os seguros para animais: o que ninguém te conta
