Seguros em Portugal: o que os portugueses não sabem sobre as coberturas que contratam

Seguros em Portugal: o que os portugueses não sabem sobre as coberturas que contratam
Num país onde o seguro automóvel é obrigatório e o seguro de saúde se tornou quase um bem de primeira necessidade, milhões de portugueses assinam apólices todos os anos sem realmente compreenderem o que estão a comprar. A complexidade das letras pequenas, os excludentes escondidos e as cláusulas que limitam indemnizações transformam estes contratos numa verdadeira armadilha para o consumidor desatento.

A investigação realizada junto das principais seguradoras nacionais revela que mais de 60% dos portugueses nunca leram na íntegra as condições gerais dos seus seguros. A pressa na contratação, a confiança cega nos mediadores e a linguagem técnica dificultam a compreensão do que está realmente em jogo quando se paga uma prémio mensal ou anual.

Os seguros de saúde são talvez os mais problemáticos. Muitos utentes descobrem apenas no momento da necessidade que os tratamentos mais caros não estão cobertos, que as listas de espera para especialidades são quase tão longas como no SNS, ou que existem limites anuais para consultas e exames que nunca lhes foram explicados claramente na altura da contratação.

No sector automóvel, a situação não é melhor. As apólices mais baratas escondem frequentemente franquias elevadíssimas, limites de indemnização ridículos e excludentes que tornam a cobertura quase inútil em caso de acidente grave. Muitos condutores só descobrem estas limitações quando tentam activar o seguro após um sinistro.

O seguro multirriscos habitacional é outra área onde os portugueses são frequentemente surpreendidos. Danos causados por infiltrações, responsabilidade civil por acidentes domésticos e até roubos podem não estar cobertos conforme as expectativas dos segurados. As seguradoras aproveitam-se da falta de conhecimento técnico dos clientes para limitar ao máximo as suas responsabilidades.

A Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) tem recebido cada vez mais reclamações sobre práticas comerciais agressivas e falta de transparência na informação prestada aos consumidores. No entanto, o ritmo lento dos processos de fiscalização e as coimas relativamente baenas não têm sido suficientes para mudar comportamentos no sector.

Os mediadores de seguros, que deveriam ser os aliados dos consumidores, estão muitas vezes mais interessados nas comissões que recebem das seguradoras do que em encontrar a solução mais adequada para cada cliente. A formação deficiente de muitos destes profissionais e os conflitos de interesse inerentes à profissão contribuem para este cenário.

As novas insurtechs que chegaram ao mercado prometem maior transparência e simplicidade, mas será que cumprem? A análise das suas condições contratuais mostra que, em muitos casos, as limitações são semelhantes às das seguradoras tradicionais, apenas apresentadas de forma mais moderna e apelativa.

A digitalização dos processos trouxe vantagens em termos de velocidade e acesso, mas também criou novos riscos. Muitos consumidores contratam seguros online sem qualquer aconselhamento profissional, baseando-se apenas em informações superficiais e preços baixos, o que pode sair caro a longo prazo.

A literacia financeira dos portugueses em matéria de seguros é alarmantemente baixa. Escolas, associações de consumidores e até as próprias seguradoras deveriam investir mais em educação sobre estes produtos que são essenciais para a protecção das famílias e do património.

O futuro dos seguros em Portugal dependerá da capacidade do sector em tornar-se mais transparente e centrado no cliente. As expectativas dos consumidores estão a mudar rapidamente, e quem não se adaptar ficará para trás num mercado cada vez mais competitivo e globalizado.

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