Seguros em Portugal: o que os portugueses não sabem sobre as apólices que contratam

Seguros em Portugal: o que os portugueses não sabem sobre as apólices que contratam
Num país onde o seguro automóvel é obrigatório e o seguro de saúde se tornou quase um bem de primeira necessidade, quantos portugueses realmente compreendem o que assinam quando contratam uma apólice? A verdade é que a maioria dos consumidores limita-se a comparar preços online, escolhe a opção mais barata e assina sem ler as letras pequenas. Uma investigação aprofundada revela que esta prática pode custar muito mais do que se imagina.

Os seguros em Portugal movimentam milhares de milhões de euros anualmente, mas a literacia financeira dos portugueses sobre este tema continua alarmantemente baixa. Segundo dados da ASF, apenas 15% dos consumidores lê integralmente as condições gerais antes de assinar um contrato. Os restantes 85% confiam no que o mediador lhes diz ou, pior ainda, no que entendem dos folhetos publicitários.

A complexidade das apólices é intencional? Muitos especialistas defendem que sim. As seguradoras investem em linguagem jurídica densa precisamente para dificultar a compreensão dos limites de cobertura. Um exemplo flagrante: as exclusões por "culpa grave" nos seguros automóveis, um conceito tão vago que permite às companhias recusar indemnizações em situações onde o condutor cometeu uma simples distração.

Os seguros de saúde são outro campo minado. As tabelas de preços convencionados com as clínicas são frequentemente desatualizadas, obrigando os pacientes a pagar do seu bolso a diferença entre o que a seguradora cobre e o que a clínica cobra. E não se iluda: mesmo nos seguros mais caros, há sempre tratamentos excluídos ou sujeitos a períodos de carência absurdamente longos.

A revolução digital trouxe comparadores online que prometem transparência, mas a realidade é bem diferente. Estes sites ganham comissões das seguradoras, o que significa que nem sempre mostram as opções mais vantajosas para o consumidor. Muitos escondem seguros com melhores coberturas em favor daqueles que lhes pagam melhores comissões.

E o que dizer dos seguros multirriscos habitação? A maioria dos portugueses desconhece que as apólices standard não cobrem danos causados por infiltrações ou humidades, problemas comuns em Portugal. Para ter essa cobertura, é necessário contratar um complemento específico, que poucos mediadores se dão ao trabalho de explicar.

A fiscalização da ASF tem sido insuficiente para travar estas práticas. Com meios humanos reduzidos e processos lentos, a autoridade do sector pouco pode fazer perante a avalanche de queixas que recebe diariamente. A verdade é que o sistema beneficia as seguradoras em detrimento dos consumidores.

Mas há luz ao fundo do túnel. Novas insurtechs estão a desafiar o status quo, oferecendo apólices mais transparentes e preços mais justos. A tecnologia blockchain promete revolucionar o sector, com contratos inteligentes que executam automaticamente as indemnizações sem intermediários.

O consumidor português precisa de acordar. Exigir explicações claras, comparar coberturas e não apenas preços, e ler sempre as condições gerais antes de assinar. O barato pode sair caro quando se trata de seguros, e ignorância neste campo tem um preço que muitos não estão dispostos a pagar.

Subscreva gratuitamente

Terá acesso a conteúdo exclusivo, como descontos e promoções especiais do conteúdo que escolher:

Tags

  • seguros
  • Consumidor
  • ASF
  • apólices
  • proteção financeira