Seguros em Portugal: o que os portugueses não sabem sobre as apólices que assinam

Seguros em Portugal: o que os portugueses não sabem sobre as apólices que assinam
Num país onde o seguro automóvel é obrigatório e os seguros de saúde proliferam, poucos são os que realmente compreendem o que assinam quando adquirem uma apólice. A complexidade dos contratos, repletos de cláusulas e exceções, transforma a decisão de proteção num campo minado para o consumidor comum.

Investigámos durante semanas as práticas do setor segurador português e descobrimos que muitas das exclusões mais importantes estão escondidas em letra pequena. Desde coberturas que não abrangem danos causados por fenómenos naturais específicos até limites surpreendentes nas indemnizações, a realidade contrasta frequentemente com o que é prometido na venda.

Os seguros de saúde, particularmente os coletivos oferecidos através das empresas, escondem armadilhas perigosas. Muitos trabalhadores desconhecem que a cobertura pode terminar abruptamente em caso de despedimento ou que certas especialidades médicas têm limites anuais ridiculamente baixos. A portabilidade destes seguros é outro mito que precisa de ser desmontado.

No ramo automóvel, a situação não é mais animadora. As seguradoras aproveitam-se sistematicamente da falta de conhecimento dos condutores para impor franquias abusivas e limitar as coberturas em caso de acidentes com veículos não identificados. A chamada 'cláusula de penalização' por sinistros não culpados é uma das práticas mais questionáveis do setor.

O mercado de seguros multirriscos habitacionais vive da ilusão de proteção total. A verdade é que a maioria das apólices exclui explicitamente danos por inundação, infiltrações ou actos de vandalismo, deixando milhares de famílias desprotegidas face a eventos comuns.

A digitalização do setor trouxe novas ameaças. As apólices online, vendidas como mais baratas e convenientes, frequentemente oferecem coberturas inferiores às tradicionais. A falta de aconselhamento personalizado leva os consumidores a subestimar os seus reais needs de proteção.

As seguradoras argumentam que todas as informações estão disponíveis nos contratos, mas a realidade é que esses documentos podem chegar às 50 páginas de texto denso e jargão técnico. O cliente médio não tem nem o tempo nem os conhecimentos para decifrar esta torre de Babel contratual.

A Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) tem vindo a alertar para estas práticas, mas a sua capacidade de intervenção é limitada face à complexidade do mercado. As queixas dos consumidores triplicaram nos últimos três anos, indicando um problema crescente.

Os especialistas consultados pela nossa redação são unânimes: é urgente simplificar a linguagem dos contratos e aumentar a transparência nas vendas. A educação financeira da população para estas matérias é fundamental para equilibrar a relação entre seguradoras e segurados.

O futuro dos seguros em Portugal passa por uma maior regulação e pelo empoderamento do consumidor. Enquanto isso não acontece, caberá a cada português ler as letras pequenas com lupa e questionar tudo o que lhe é vendido como 'proteção total'.

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