Seguros em Portugal: o que os jornais não contam sobre as novas ameaças digitais e as coberturas que faltam

Seguros em Portugal: o que os jornais não contam sobre as novas ameaças digitais e as coberturas que faltam
Nas redações dos principais jornais portugueses, as notícias sobre seguros seguem um padrão previsível: aumentos de prémios, novas ofertas das seguradoras, dicas para poupar. Mas há histórias que não chegam às primeiras páginas, histórias que se escondem nos interstícios dos contratos e nas vulnerabilidades de um mundo cada vez mais digital.

Enquanto o Jornal de Negócios analisa os resultados trimestrais das seguradoras e o Expresso descreve as últimas fusões do setor, uma realidade paralela desenvolve-se nas sombras. Os portugueses estão mais expostos do que nunca a riscos que as suas apólices tradicionais não cobrem. O cibercrime, por exemplo, já não é apenas uma ameaça para grandes empresas. Pequenos comerciantes, freelancers e até famílias são alvos frequentes de ataques que podem destruir anos de trabalho em minutos.

A TSF noticiava recentemente o aumento de fraudes online durante a pandemia, mas poucos perceberam as implicações para os seguros domésticos. Um ataque de ransomware que bloqueie os computadores de um trabalhador independente pode significar semanas sem rendimento. As apólices tradicionais de responsabilidade civil não cobrem estes cenários, deixando milhares de profissionais vulneráveis.

Nos cafés de Lisboa e Porto, conversa-se sobre os preços dos seguros automóveis, mas quase ninguém discute a revolução silenciosa nos seguros de saúde. O Observador tem abordado as listas de espera no SNS, mas há uma história por contar sobre as exclusões nas apólices de saúde privada. Condições pré-existentes, tratamentos experimentais e terapias alternativas são frequentemente excluídas, criando falsas expectativas de cobertura total.

O Dinheiro Vivo fala regularmente sobre poupança para a reforma, mas há um ângulo negligenciado: os seguros de vida vinculados a fundos de investimento. Muitos portugueses não percebem que estão a comprar dois produtos num só - proteção e investimento - com comissões que podem corroer os retornos durante décadas. As letras pequenas destes contratos escondem surpresas desagradáveis para quem não as lê com atenção de advogado.

Nas prateleiras das livrarias, os manuais de finanças pessoais multiplicam-se, mas poucos dedicam capítulos aos seguros de crédito à habitação. O Jornal Económico analisa as taxas de juro, mas raramente examina as cláusulas abusivas nestes seguros obrigatórios. Muitas famílias pagam por coberturas redundantes ou desnecessárias, sem perceber que poderiam negociar condições mais favoráveis.

A Visão tem publicado reportagens sobre as alterações climáticas, mas a ligação com os seguros permanece subexplorada. As cheias em Lisboa no ano passado mostraram como muitos seguros multirriscos habitacionais não cobrem adequadamente danos por fenómenos climáticos extremos. À medida que estes eventos se tornam mais frequentes, a inadequação das coberturas tradicionais torna-se mais evidente.

Nos gabinetes dos corretores de seguros, circulam histórias que nunca chegam aos jornais. Casos de seguradoras que recusam indemnizações com base em tecnicismos, famílias que descobrem demasiado tarde as limitações das suas coberturas, empresas que enfrentam a ruína após sinistros não contemplados nas apólices. Estas histórias humanas mostram o lado menos glamoroso do mundo dos seguros.

O DN tem coberto os escândalos financeiros, mas há um silêncio ensurdecedor sobre a literacia em seguros dos portugueses. Estudos não publicados mostram que mais de 60% dos portugueses não compreendem completamente as coberturas que contratam. Esta ignorância custa milhões anualmente em prémios excessivos e indemnizações não reclamadas.

Nas universidades, os cursos de direito e economia ensinam os princípios dos contratos de seguro, mas poucos formam especialistas capazes de navegar o labirinto regulatório atual. A Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões emite comunicados técnicos que raramente são traduzidos para linguagem acessível ao cidadão comum.

Enquanto os media tradicionais se concentram nas grandes notícias do setor, histórias importantes permanecem por contar. A revolução dos seguros paramétricos, que pagam automaticamente quando ocorrem eventos específicos (como terramotos acima de certa magnitude), está a mudar o mercado global mas passa despercebida em Portugal. As insurtechs que usam inteligência artificial para personalizar coberturas ainda são vistas como curiosidades exóticas, não como o futuro do setor.

Nos próximos anos, os desafios para o setor segurador português multiplicar-se-ão. Desde a adaptação às alterações climáticas até à proteção contra novas formas de cibercrime, as seguradoras terão de inovar rapidamente. Mas esta inovação só será verdadeiramente útil se for acompanhada por uma maior transparência e por consumidores melhor informados.

As redações dos jornais portugueses têm a oportunidade de contar estas histórias, de ir além dos comunicados de imprensa e dos resultados financeiros. Há dramas humanos, revoluções tecnológicas e questões de justiça social escondidas nas páginas das apólices de seguro. Basta saber onde procurar e ter a coragem de contar o que se encontra.

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