O setor dos seguros em Portugal atravessa uma transformação silenciosa mas profunda. Enquanto os consumidores se debatem com subidas de prémios e coberturas cada vez mais complexas, as seguradoras adaptam-se a novas realidades climáticas, tecnológicas e regulatórias. Esta mudança está a redefinir não apenas os produtos disponíveis, mas a própria relação entre as empresas e os portugueses.
Nos últimos meses, as principais seguradoras nacionais têm implementado ajustes significativos nas suas políticas, particularmente nos seguros multirriscos habitacionais. As alterações climáticas, com fenómenos extremos cada vez mais frequentes, obrigam a uma reavaliação constante dos riscos. As cheias que assolaram o norte do país no inverno e os incêndios florestais do verão deixaram claro: o modelo tradicional de seguros precisa de evoluir.
A digitalização surge como uma das respostas mais evidentes. As apólices digitais, que há cinco anos eram uma raridade, representam hoje mais de 40% das novas contratações. Esta migração para o online não é apenas uma questão de conveniência - permite às seguradoras recolher dados mais precisos e oferecer coberturas personalizadas. No entanto, especialistas alertam para os riscos desta transformação acelerada, especialmente para a população mais idosa e menos familiarizada com as novas tecnologias.
O seguro automóvel, tradicionalmente o produto mais popular entre os portugueses, enfrenta os seus próprios desafios. A inflação nos custos de reparação, agravada pela complexidade tecnológica dos veículos modernos, tem pressionado os prémios para níveis historicamente elevados. Um estudo recente da ASF revela que o prémio médio do seguro automóvel subiu 8,3% no último ano, um aumento que supera significativamente a inflação geral da economia.
Mas as mudanças mais significativas podem estar a acontecer nos seguros de saúde. A pandemia acelerou a adoção de telemedicina e serviços digitais, e as seguradoras estão a incorporar estas inovações nas suas ofertas. Os seguros de saúde com componentes de wellness e prevenção ganham terreno, refletindo uma mudança de paradigma: da simples cobertura de tratamentos para a promoção ativa da saúde.
A regulação também evolui. A nova diretiva europeia sobre distribuição de seguros, que entrou em vigor este ano, reforça a proteção dos consumidores e impõe requisitos mais rigorosos de transparência. Os mediadores de seguros enfrentam agora a obrigação de documentar detalhadamente as recomendações feitas aos clientes, um passo que visa combater a venda inadequada de produtos complexos.
Para os portugueses, navegar neste novo ecossistema de seguros exige mais informação e cuidado. A comparação entre diferentes ofertas tornou-se essencial, mas também mais complexa. As exclusões e limitações das apólices multiplicaram-se, e o que parece ser um bom negócio à primeira vista pode esconder coberturas insuficientes para situações críticas.
Os seguros ligados à habitação merecem particular atenção. Com o aumento dos preços dos imóveis, muitos portugueses descobrem que as suas casas estão subseguradas. Um apartamento comprado há dez anos pode valer hoje 30% mais, mas o capital seguro mantém-se inalterado se não for feita uma atualização regular da apólice.
A sustentabilidade financeira do setor é outra preocupação emergente. As seguradoras enfrentam o duplo desafio de manter prémios acessíveis enquanto garantem reservas suficientes para fazer face a sinistros cada vez mais frequentes e custosos. Esta tensão reflete-se nas estratégias de investimento das companhias, que procuram equilibrar rentabilidade com segurança.
O futuro dos seguros em Portugal aponta para uma maior personalização, impulsionada pela inteligência artificial e análise de dados. Os produtos one-size-fits-all estão a dar lugar a soluções adaptadas ao perfil específico de cada cliente. Esta evolução promete melhores preços para os bons riscos, mas pode deixar para trás os consumidores com perfis mais complexos ou menos digitais.
Para os portugueses, a mensagem é clara: o seguro deixou de ser um produto standard que se compra e esquece. Requer atenção constante, comparação regular e compreensão das novas regras do jogo. Num mundo de riscos em transformação, a proteção adequada do património exige tanto cuidado na escolha dos seguros como na gestão do dia a dia.
Seguros em Portugal: o que muda com as novas regras e como proteger o seu património
