Seguros em Portugal: o que as seguradoras não querem que saibas sobre os prémios e coberturas

Seguros em Portugal: o que as seguradoras não querem que saibas sobre os prémios e coberturas
Nos últimos meses, os portugueses têm sentido o peso crescente dos prémios de seguros no orçamento familiar. Enquanto as seguradoras apresentam lucros recorde, os consumidores questionam-se: estaremos a pagar mais por menos proteção? A resposta, como descobrimos nesta investigação, é mais complexa do que parece.

Os dados mais recentes da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) revelam que o sector segurador português registou um crescimento de 8,3% no primeiro semestre deste ano, com prémios diretos a atingirem os 5,2 mil milhões de euros. Estes números contrastam com as queixas generalizadas sobre aumentos superiores à inflação em seguros automóvel, saúde e habitação.

A verdade é que as seguradoras enfrentam pressões crescentes. As alterações climáticas trouxeram fenómenos meteorológicos extremos mais frequentes, aumentando significativamente as indemnizações por catástrofes naturais. Só no último ano, as tempestades e incêndios florestais custaram às seguradoras portuguesas mais de 300 milhões de euros em pagamentos.

Mas será que estes custos justificam totalmente os aumentos? A nossa investigação descobriu que muitas empresas estão a usar algoritmos de precificação cada vez mais sofisticados que analisam milhares de variáveis, desde o histórico de crédito até aos hábitos de condução monitorizados através de apps. Estes sistemas criam perfis de risco ultra-personalizados, beneficiando alguns clientes enquanto penalizam outros de forma desproporcionada.

O segredo melhor guardado do sector está nos chamados 'seguros paramétricos'. Estes produtos, ainda pouco conhecidos em Portugal, pagam automaticamente quando ocorre um evento específico (como um sismo acima de determinada magnitude), sem necessidade de avaliação de perdas. Esta inovação poderia revolucionar a proteção contra catástrofes naturais, mas as seguradoras têm sido lentas a implementá-la.

Outra tendência emergente é a 'seguros como serviço', onde os consumidores pagam uma subscrição mensal que cobre múltiplos riscos de forma integrada. Startups como a Doutor Seguros estão a desafiar os modelos tradicionais, oferecendo experiências digitais simplificadas e preços mais transparentes.

No entanto, os especialistas alertam para os riscos da hiper-personalização. Quando os prémios são calculados com base em dados tão detalhados, os consumidores com perfis de risco menos favoráveis podem ficar efectivamente excluídos do mercado ou enfrentar preços proibitivos.

A regulação também está a mudar. A nova diretiva europeia sobre distribuição de seguros, que entra em vigor no próximo ano, exigirá maior transparência nas comissões dos mediadores e reforçará a proteção dos consumidores. Mas será suficiente para travar as práticas mais agressivas de precificação?

A digitalização traz oportunidades e ameaças. Por um lado, permite comparações mais fáceis e processos mais eficientes. Por outro, cria novas vulnerabilidades em termos de proteção de dados e pode marginalizar os consumidores menos digitais, particularmente entre a população mais idosa.

O futuro dos seguros em Portugal dependerá do equilíbrio entre inovação e proteção do consumidor. As seguradoras que conseguirem oferecer produtos mais adaptados às necessidades reais dos portugueses, com transparência e preços justos, sairão vencedoras. As que insistirem em modelos opacos e práticas questionáveis arriscam-se a perder a confiança dos clientes.

O que está claro é que os portugueses estão mais informados e exigentes do que nunca. A era em que se contratava um seguro sem questionar os detalhes da cobertura ou comparar alternativas está a chegar ao fim. E isso, no final, beneficiará todos os intervenientes no mercado.

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