Num país onde quase todos temos pelo menos um seguro, poucos são os que realmente compreendem o que está escrito nas letras pequenas dos contratos. Enquanto as seguradoras apresentam campanhas publicitárias com famílias sorridentes e promessas de proteção total, a realidade nos gabinetes de reclamações conta uma história diferente.
Investigações recentes revelam que os portugueses pagam, em média, 15% mais pelos seguros automóvel do que os seus vizinhos espanhóis, sem que exista uma justificação clara para esta diferença. Os especialistas apontam para a falta de transparência nas tabelas de preços e para cláusulas contratuais que beneficiam sistematicamente as seguradoras em caso de sinistro.
No sector da saúde, a situação é ainda mais preocupante. Planos que prometem cobertura total em hospitais privados escondem, muitas vezes, limites anuais em tratamentos específicos ou listas de médicos e clínicas que na prática restringem o acesso aos cuidados de saúde. Os utentes só descobrem estas limitações quando mais precisam, enfrentando custos inesperados em momentos de vulnerabilidade.
A digitalização trouxe novas oportunidades, mas também novos riscos. As apólices online, vendidas como mais baratas e convenientes, frequentemente oferecem menos cobertura do que os seguros tradicionais. A falta de aconselhamento personalizado leva muitos consumidores a escolher produtos inadequados para as suas necessidades reais.
As seguradoras defendem-se argumentando que os preços refletem o risco real em Portugal, onde a sinistralidade rodoviária continua elevada e os custos com a saúde não param de aumentar. No entanto, os dados mostram que os lucros do sector têm crescido consistentemente acima da inflação, mesmo nos anos de crise económica.
A Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) tem vindo a aumentar a fiscalização, mas os recursos são limitados face à complexidade do mercado. As novas regras europeias prometem maior proteção aos consumidores, mas a sua implementação em Portugal tem sido lenta e cheia de exceções negociadas pelo lobby das seguradoras.
Para os consumidores, a chave está na informação. Comparar diferentes ofertas, ler atentamente as condições gerais e específicas, e questionar tudo o que não estiver claro pode fazer a diferença entre ter uma proteção real ou apenas a ilusão de segurança. As associações de defesa do consumidor recomendam sempre pedir esclarecimentos por escrito e guardar toda a correspondência com a seguradora.
O futuro dos seguros em Portugal passa por uma maior transparência e por produtos mais adaptados às necessidades reais dos portugueses. Enquanto isso não acontece, cabe a cada um de nós desconfiar das promessas fáceis e investir tempo a compreender exatamente o que estamos a comprar quando assinamos uma apólice de seguro.
Seguros em Portugal: o que as seguradoras não contam sobre os seus seguros de saúde e automóvel