Seguros em Portugal: o que as seguradoras não contam sobre os preços e coberturas

Seguros em Portugal: o que as seguradoras não contam sobre os preços e coberturas
Os portugueses pagam anualmente milhares de milhões em prémios de seguros, mas quantos realmente compreendem o que estão a comprar? A verdade é que o sector segurador opera com uma opacidade que deixaria qualquer consumidor perplexo. Entre cláusulas escondidas, exclusões camufladas e preços que variam sem explicação lógica, o mercado de seguros em Portugal precisa de uma lupa gigante.

Investigações recentes revelam que as seguradoras utilizam algoritmos complexos que analisam desde o código postal até aos hábitos de compra online para calcular prémios. Um residente em Lisboa pode pagar o dobro de um residente no Porto pelo mesmo seguro automóvel, sem que exista uma justificação clara baseada em estatísticas de sinistralidade. Os dados mostram que certas zonas da capital são penalizadas de forma desproporcionada, levantando questões sobre discriminação geográfica.

As coberturas dos seguros multirriscos habitacionais escondem armadilhas que só descobrimos quando algo corre mal. Muitas políticas excluem danos causados por infiltrações provenientes de apartamentos vizinhos ou limitam indemnizações por roubo a valores irrisórios. Os consumidores assinam contratos de dezenas de páginas sem compreender que estão a adquirir uma proteção cheia de buracos.

No sector automóvel, a situação não é mais transparente. As seguradoras prometem "cobertura total" mas raramente explicam que isso não inclui desgaste natural, avarias mecânicas ou danos em peças específicas. Os condutores descobrem demasiado tarde que o seu seguro completo não cobre o arranjo do motor após uma avaria ou a substituição de para-brisas com mais de cinco anos.

Os seguros de saúde representam outro capítulo obscuro. As apólices prometem acesso a melhores cuidados médicos, mas os períodos de carência, as limitações de especialidades e os tetos de indemnização transformam muitas promessas em ilusões. Pacientes com cancro descobrem que os tratamentos inovadores não estão cobertos, enquanto outros veem-se limitados a hospitais com listas de espera intermináveis.

A digitalização trouxe novas complexidades. As seguradoras recolhem dados através de apps que monitorizam a condução, os hábitos de exercício e até os padrões de sono. Estes dados são depois usados para ajustar prémios, muitas vezes sem que o cliente compreenda como a sua privacidade está a ser comercializada em troca de descontos questionáveis.

As seguradoras argumentam que a personalização de preços beneficia os clientes mais cuidadosos, mas especialistas alertam para o risco de segmentação excessiva. Criamos um sistema onde cada pessoa paga um preço único, tornando impossível a comparação transparente entre operadoras. O que era para ser inovação transformou-se numa torre de Babel de preços incomparáveis.

As reclamações apresentadas à ASF (Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões) mostram um padrão preocupante: demoras injustificadas no pagamento de indemnizações, interpretações restritivas das coberturas e resistência em aceitar avaliações independentes. Muitos portugueses desistem de lutar pelos seus direitos face à complexidade dos processos.

A solução pode passar por uma maior regulação e transparência obrigatória. Alguns países europeus já implementaram sistemas de comparação de seguros supervisionados por entidades independentes, onde os consumidores podem realmente entender o que estão a comprar. Em Portugal, continuamos dependentes de folhetos promocionais que mais parecem obras de ficção.

Os portugueses merecem seguros que protejam realmente, sem surpresas desagradáveis na hora do sinistro. É tempo de exigir contratos claros, preços transparentes e coberturas que cumpram o que prometem. O silêncio das seguradoras sobre estes temas só é quebrado quando jornalistas investigativos colocam o dedo na ferida.

Enquanto consumidores, devemos ler as letras pequenas, comparar propostas com espírito crítico e exigir explicações para cláusulas obscuras. O seguro não deve ser um jogo de azar onde só as seguradoras conhecem as regras. A proteção que compramos deve ser real, não apenas uma promessa vaga num contrato ilegível.

Subscreva gratuitamente

Terá acesso a conteúdo exclusivo, como descontos e promoções especiais do conteúdo que escolher:

Tags

  • seguros
  • Consumidor
  • transparência
  • investigação
  • ASF