Num país onde o seguro automóvel é obrigatório e o de saúde se tornou quase essencial, os portugueses continuam a assinar contratos sem ler as letras miúdas. E as seguradoras? Aproveitam-se dessa negligência com cláusulas que beiram o absurdo.
Investigações recentes revelam que 78% dos portugueses não lêem os contratos de seguro na íntegra. Destes, 45% confessam que apenas duma vista de olhos às coberturas principais. O resultado? Surpresas desagradáveis quando chega a hora de acionar a apólice.
As exclusões escondidas são o calcanhar de Aquiles dos consumidores. Sabia que muitas apólices de saúde não cobrem tratamentos dentários de rotina? Ou que os seguros de viagem podem excluir atividades consideradas "perigosas" como mergulho ou até mesmo ski? Os detalhes estão lá, mas ninguém os vê.
As seguradoras portuguesas desenvolveram uma linguagem técnica tão complexa que até juristas têm dificuldade em decifrar alguns parágrafos. É estratégia ou incompetência? As duas coisas, garantem especialistas do setor.
O caso dos seguros de telemóveis é particularmente revelador. Muitos consumidores pagam anos a fio por uma cobertura que, na prática, só cobre o roubo com violência e nunca o extravio ou quebra acidental. As seguradoras lucram milhões com esta ambiguidade.
As franquias são outra armadilha bem montada. Valores que parecem simbólicos no momento da contratação transformam-se em barreiras intransponíveis na hora do sinistro. Muitos portugueses desistem de reclamar porque a franquia é quase igual ao valor do prejuízo.
As apólices multirriscos habitacionais escondem surpresas ainda maiores. Danos causados por infiltrações são frequentemente excluídos se a origem for considerada "falta de manutenção". Como provar que se manteve adequadamente um telhado com 20 anos?
As seguradoras argumentam que os contratos são claros e que os mediadores explicam as condições. Mas a realidade mostra outra coisa: a pressão comercial leva a que muitos detalhes sejam omitidos nas vendas.
A Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) recebe centenas de reclamações mensais sobre este tema. No entanto, as coimas aplicadas são insignificantes face aos lucros obtidos com estas práticas.
Os consumidores começam a organizar-se. Grupos no Facebook e plataformas online permitem partilhar experiências e identificar as armadilhas mais comuns. A sabedoria coletiva está a tornar-se a melhor arma contra as cláusulas abusivas.
Algumas seguradoras começam a sentir a pressão e lançam produtos mais transparentes. Mas será suficiente? Especialistas defendem que apenas uma regulamentação mais rigorosa pode mudar efetivamente o setor.
Enquanto isso, o conselho mantém-se: leia tudo, questione tudo e não assine nada sem compreender cada vírgula. O diabo está mesmo nos detalhes, especialmente quando falamos de seguros.
Seguros em Portugal: o que as seguradoras não contam sobre os pequenos print
