Num país onde a palavra 'seguro' ainda evoca imagens de papeladas intermináveis e burocracias kafkianas, uma revolução silenciosa está a ganhar forma. A tecnologia está a reescrever as regras do jogo, e os portugueses começam finalmente a perceber que a proteção pode ser tão simples como um toque no ecrã do telemóvel.
Os números não mentem: segundo dados recentes do setor, mais de 60% dos portugueses já utilizam plataformas digitais para gerir os seus seguros. Esta mudança não é apenas sobre conveniência - é sobre uma nova relação com a proteção. As insurtechs nacionais estão a desafiar os gigantes tradicionais, oferecendo soluções personalizadas que respondem às necessidades reais dos consumidores.
A pandemia funcionou como catalisador desta transformação. Milhares de portugueses descobriram, muitas vezes à força, que os seguros tradicionais não estavam preparados para os novos riscos. Empresas viram-se obrigadas a repensar a proteção dos seus colaboradores em regime de teletrabalho, enquanto famílias perceberam que a cobertura da habitação precisava de ser mais abrangente.
A inteligência artificial está no centro desta revolução. Algoritmos sofisticados analisam padrões de comportamento, histórico de sinistros e até dados meteorológicos para criar produtos verdadeiramente adaptados a cada realidade. Já não se trata de vender pacotes standard, mas de construir soluções à medida.
Os seguros paramétricos representam uma das inovações mais promissoras. Em vez de dependerem de avaliações demoradas, estes produtos ativam-se automaticamente quando ocorrem eventos específicos - como cheias, incêndios ou tempestades. Para as regiões mais vulneráveis do país, esta pode ser a diferença entre a recuperação rápida e o colapso económico.
A sustentabilidade é outra frente de batalha. As seguradoras começam a premiar comportamentos ecológicos, oferecendo descontos significativos a quem investe em energias renováveis, constrói com materiais sustentáveis ou adota práticas de mobilidade verde. O seguro deixou de ser apenas uma proteção contra o risco para se tornar um instrumento de transformação social.
Mas os desafios persistem. A literacia financeira continua a ser uma barreira significativa. Muitos portugueses ainda não compreendem completamente o que estão a comprar, o que os torna vulneráveis a produtos inadequados ou coberturas insuficientes. A educação é, por isso, tão crucial quanto a inovação tecnológica.
O setor enfrenta também o dilema dos dados. Por um lado, a informação permite personalizar ofertas e reduzir custos. Por outro, levanta questões delicadas sobre privacidade e potencial discriminação. O equilíbrio entre inovação e proteção do consumidor será um dos grandes debates dos próximos anos.
As microsseguradoras emergem como resposta a este desafio. Estas plataformas permitem que grupos de pessoas com interesses comuns criem os seus próprios pools de risco, eliminando intermediários e reduzindo custos. Desde comunidades rurais a profissionais liberais, esta abordagem colaborativa está a ganhar adeptos.
A regulação tenta acompanhar o ritmo da inovação. A ASF tem trabalhado para criar um enquadramento que proteja os consumidores sem estrangular a criatividade. O desafio é considerável: como garantir a estabilidade do sistema sem travar o progresso?
O futuro aponta para os seguros por utilização. Em vez de pagar um prémio fixo anual, os consumidores pagarão consoante o seu comportamento real. No automóvel, isto significa prémios baseados na quilometragem e estilo de condução. Na saúde, planos que recompensam hábitos saudáveis.
As parcerias entre seguradoras e outros setores multiplicam-se. Bancos, retalhistas e até operadoras de telecomunicações entram no jogo, oferecendo seguros como parte de pacotes mais abrangentes. Esta convergência redefine completamente o ecossistema da proteção.
Para o consumidor português, nunca houve tanto poder de escolha. Mas com esse poder vem a responsabilidade de fazer escolhas informadas. A era do 'seguro que o meu pai tinha' chegou ao fim. Chegou a hora de cada português construir a sua própria rede de segurança - mais inteligente, mais flexível e mais adequada aos tempos que correm.
A revolução dos seguros em Portugal está apenas no início. Os próximos anos trarão inovações que hoje mal conseguimos imaginar. O que é certo é que a proteção nunca mais será a mesma - e isso é uma excelente notícia para todos os portugueses.
Os seguros que Portugal precisa: como a tecnologia está a revolucionar a proteção dos portugueses
