Nos últimos meses, as redações dos principais jornais portugueses têm vindo a destacar uma transformação silenciosa mas profunda no sector segurador nacional. Enquanto os consumidores ainda debatem preços e coberturas tradicionais, as seguradoras estão a investir milhões em inteligência artificial, blockchain e internet das coisas, criando um novo paradigma de proteção.
A telemetria automóvel já não é novidade, mas poucos sabem que os mesmos princípios estão a ser aplicados aos seguros de saúde. Dispositivos wearables monitorizam em tempo real indicadores vitais, permitindo não apenas prevenção personalizada, mas também prémios adaptados aos comportamentos saudáveis. Esta é a era dos seguros comportamentais, onde o prémio reflete diretamente as escolhas de cada um.
No mundo empresarial, a revolução é ainda mais evidente. As coberturas de cibersegurança, há cinco anos consideradas nicho, tornaram-se essenciais para PMEs e grandes empresas. Os ataques ransomware multiplicaram-se, e as seguradoras respondem com serviços proativos de monitorização 24/7, onde as indemnizações são apenas parte da solução.
O blockchain emerge como a tecnologia mais disruptiva. Os smart contracts automatizam indemnizações em seguros de viagem ou agrícolas, onde condições meteorológicas específicas disparam automaticamente pagamentos sem intervenção humana. A transparência e velocidade destes processos estão a redefinir a confiança entre seguradores e segurados.
Curiosamente, esta transformação tecnológica coincide com mudanças demográficas profundas. Os millennials e a geração Z mostram-se mais recetivos a seguros totalmente digitais, mas também mais exigentes na personalização. Querem coberturas modulares, que possam ativar ou desativar conforme as necessidades momentâneas, como um seguro de telemóvel apenas durante as férias ou um seguro de saúde ampliado durante a prática desportiva.
Os desafios regulatórios não são menores. A Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões tem vindo a publicar orientações sobre o uso ético de dados pessoais, um equilíbrio delicado entre inovação e privacidade. As seguradoras que conseguirem navegar estas águas regulatórias terão vantagem competitiva significativa.
As alterações climáticas representam outro vetor de mudança. Seguros contra fenómenos extremos tornaram-se mais caros e complexos, com modelização avançada de riscos a determinar prémios em função da localização exacta e das medidas de prevenção implementadas. No Algarve e em outras zonas costeiras, estas dinâmicas são particularmente visíveis.
O papel dos corretores está igualmente em evolução. De meros intermediários, transformam-se em consultores tecnológicos, ajudando clientes a navegar ecossistemas digitais complexos. As plataformas de comparação online crescem, mas a assessoria personalizada mantém valor acrescentado quando bem executada.
O futuro próximo trará seguros sob medida para a economia gig, onde trabalhadores independentes necessitam de proteções flexíveis. Seguros de responsabilidade civil por hora ou por projeto começam a aparecer no mercado, desafiando modelos centenários de prémios anuais.
Em conclusão, o sector segurador português vive a sua mais profunda transformação desde a sua fundação. Tecnologia, demografia e alterações climáticas convergem para criar um novo ecossistema onde a prevenção supera a indemnização, e a personalização substitui a estandardização. Os consumidores que entenderem estas dinâmicas poderão não apenas poupar dinheiro, mas acima de tudo obter proteção verdadeiramente adaptada aos seus estilos de vida em constante mudança.
O futuro dos seguros em Portugal: como a tecnologia está a revolucionar a proteção pessoal e empresarial
