O futuro dos seguros em Portugal: como a tecnologia está a revolucionar a proteção pessoal

O futuro dos seguros em Portugal: como a tecnologia está a revolucionar a proteção pessoal
Nos últimos meses, as redações dos principais jornais portugueses têm dedicado páginas inteiras a um tema que está a transformar silenciosamente a nossa relação com o risco: a revolução digital no setor dos seguros. Enquanto navegamos por aplicações que nos permitem contratar um seguro de viagem em três toques no ecrã do telemóvel, poucos se dão conta da tempestade perfeita que se forma nos bastidores deste setor tradicional.

Os dados são eloquentes. Segundo estudos recentes citados pelo Jornal de Negócios, mais de 65% dos portugueses já utilizam plataformas digitais para comparar e adquirir produtos seguradores. Esta mudança de comportamento não é apenas uma questão de conveniência - representa uma redefinição completa do conceito de proteção. As seguradoras que outrora competiam através de redes de medição e call centers estão agora a investir milhões em inteligência artificial e análise preditiva.

O Expresso revelou recentemente como os algoritmos estão a calcular prémios com base em padrões de condução monitorizados através de aplicações móveis. Um condutor que evita travagens bruscas e respeita os limites de velocidade pode ver o seu seguro automóvel reduzido em até 30%. Esta personalização extrema levanta, contudo, questões delicadas sobre privacidade e discriminação. Até que ponto estamos dispostos a trocar dados pessoais por preços mais baixos?

A pandemia acelerou outra tendência identificada pelo Dinheiro Vivo: o surgimento de micro-seguros adaptados a novas realidades profissionais. Os trabalhadores independentes da gig economy, que durante anos ficaram à margem dos sistemas tradicionais de proteção social, encontram agora soluções segmentadas por horas trabalhadas ou quilómetros percorridos. São produtos que nascem da necessidade de cobrir riscos específicos, em vez de oferecerem pacotes genéricos.

A Visão destacou o caso paradigmático dos seguros de saúde. As teleconsultas, que se tornaram ubíquas durante os confinamentos, estão a ser integradas em políticas que recompensam os clientes por adotarem estilos de vida saudáveis. Uma aplicação que monitoriza a atividade física pode traduzir-se em descontos significativos - mas também levanta o espectro da exclusão de quem, por razões médicas ou económicas, não consegue cumprir certos padrões.

O setor imobiliário é outro campo de batalha tecnológica. O Observador documentou como os seguros multirriscos habitacionais estão a incorporar sensores de humidade, detetores de fugas de água e sistemas anti-intrusão. Estas inovações prometem prevenir sinistros antes que ocorram, mas também criam novas dependências tecnológicas e vulnerabilidades cibernéticas.

A TSF alertou para um fenómeno preocupante: a crescente complexidade dos contratos digitais. Os termos e condições, já tradicionalmente difíceis de decifrar, tornaram-se ainda mais opacos com a introdução de cláusulas relacionadas com tratamento de dados e algoritmos de precificação. Muitos consumidores clicam em "aceito" sem compreender verdadeiramente o que estão a subscrever.

O Jornal Económico focou-se na batalha pelas startups insurtech, que estão a desafiar os gigantes tradicionais com modelos baseados em blockchain e contratos inteligentes. Estas empresas prometem processos de indemnização instantâneos e transparentes, eliminando a burocracia que tradicionalmente caracteriza o setor. Contudo, a sua escalabilidade e solvência a longo prazo permanecem questões em aberto.

A Sabado explorou o lado humano desta transformação. Os mediadores de seguros, figuras centrais durante décadas, enfrentam o desafio de se reinventarem num ecossistema cada vez mais automatizado. Muitos estão a especializar-se em nichos complexos onde o aconselhamento personalizado continua a ser valorizado, como seguros para património histórico ou riscos empresariais específicos.

O DN trouxe a lume as preocupações regulatórias. A ASF - Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões - está a desenvolver novas frameworks para acompanhar estas inovações, equilibrando a promoção da concorrência com a proteção dos consumidores. O desafio é regular setores em rápida evolução sem sufocar a inovação.

O futuro, segundo especialistas consultados pelo Notícias Sapo, aponta para uma convergência ainda maior entre seguros e tecnologia. Os veículos autónomos, as casas inteligentes e a internet das coisas criarão novos paradigmas de risco e proteção. A questão fundamental que se coloca é se esta revolução digital servirá para democratizar o acesso aos seguros ou se criará novas formas de exclusão.

Enquanto testemunhamos esta transformação, vale a pena recordar que o princípio fundamental dos seguros permanece inalterado: a partilha coletiva do risco. O que está a mudar são os instrumentos através dos quais essa partilha é organizada e os valores que priorizamos enquanto sociedade. A forma como respondermos a estes desafios determinará não apenas o futuro dos seguros, mas a própria natureza da proteção mútua na era digital.

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