Percorrer os anúncios do Idealista, CasasApo ou Homify é como folhear um catálogo de sonhos: cozinhas impecáveis, jardins cuidados, vistas de cortar a respiração. Mas entre as fotografias perfeitas e as descrições entusiasmantes, esconde-se uma realidade que poucos se atrevem a contar. Esta investigação mergulha nos bastidores do mercado imobiliário português para revelar o que realmente importa quando se procura casa.
Comecemos pelos espaços exteriores, tão celebrados no Casa.Jardim.pt. Um jardim bem cuidado pode aumentar o valor de uma propriedade em 20%, mas quantos anúncios mencionam os custos de manutenção? A rega automática, a poda regular, o controlo de pragas – são despesas silenciosas que acumulam ao longo dos anos. E os bungalows, como os apresentados no ONossoBungalow.pt, parecem refúgios idílicos até chegarem as primeiras chuvas de outono. A humidade, muitas vezes omitida nas descrições, transforma sonhos em pesadelos quando as paredes começam a ganhar manchas.
A DecoProteste alerta frequentemente para as cláusulas abusivas nos contratos, mas poucos compradores sabem que os problemas começam muito antes da assinatura. As fotografias profissionais, com ângulos calculados e luzes perfeitas, criam uma ilusão de espaço que desaparece na primeira visita. Um apartamento que parece amplo no Idealista revela-se claustrofóbico quando se tenta mobilar. E os ‘pequenos arranjos’ mencionados de passagem podem esconder obras que custam milhares de euros.
A localização é sempre destacada, mas raramente se fala do que realmente significa viver num determinado bairro. Os anúncios mencionam ‘próximo de transportes’ sem referir o barulho constante dos autocarros. ‘Zona tranquila’ pode significar isolamento, com comércio a quilómetros de distância. E aquela ‘vista desimpedida’ tão apreciada no Homify.pt pode desaparecer quando o terreno em frente for finalmente construído.
Os materiais de construção são outra área de sombras. As casas apresentadas como ‘modernas’ ou ‘renovadas’ usam frequentemente materiais de baixa qualidade que começam a degradar-se em poucos anos. Os soalhos de madeira que brilham nas fotografias podem ser finas lâminas sobre contraplacado, e os azulejos ‘de designer’ escondem por vezes juntas mal feitas que acumulam humidade. A falta de isolamento térmico e acústico é outra omissão comum, transformando invernos em contas de aquecimento astronómicas.
A burocracia é o monstro que nenhum site mostra. Entre licenças de utilização, certificados energéticos, registos prediais e contratos de serviços, o processo pode levar meses e consumir recursos que ninguém antecipa. E quando algo corre mal, como descobrir que a varanda anunciada como ‘privativa’ é na verdade comum, os mecanismos de resolução de conflitos são lentos e desgastantes.
Finalmente, há o factor humano, completamente ausente dos anúncios online. Vizinhos barulhentos, condomínios mal geridos, histórias escondidas das paredes – são dimensões intangíveis que só se descobrem vivendo num lugar. A casa perfeita no CasasApo.pt pode transformar-se num inferno se os vizinhos do lado decidirem fazer obras intermináveis ou se a rua se tornar um atalho para o trânsito local.
Esta não é uma condenação do mercado imobiliário, mas um alerta para a necessidade de olhar além do ecrã. As plataformas online são ferramentas valiosas, mas não substituem visitas demoradas, perguntas incómodas e uma dose saudável de cepticismo. A próxima vez que te maravilhares com uma cozinha de sonho no Homify ou com um jardim perfeito no Casa.Jardim, lembra-te: por trás de cada imagem há uma história completa, e nem todas as páginas são mostradas no catálogo.
O que os sites de imobiliário não te contam sobre as casas portuguesas