Há um segredo sujo que as empresas de construção não querem que descubras. Enquanto navegas por sites como Decoproteste, Casa Jardim ou Idealista, maravilhado com as transformações milagrosas, existe uma realidade que raramente aparece nas fotografias perfeitas. Esta investigação revela o que realmente acontece quando decides renovar a tua casa em Portugal.
Os primeiros sinais de alerta surgem nos orçamentos. Aqueles valores tentadores que aparecem nos anúncios raramente correspondem ao custo final. Encontrei famílias que começaram com um orçamento de 15.000 euros e terminaram a pagar mais de 40.000. O problema? Os famosos "imprevistos" que, na verdade, são completamente previsíveis para quem conhece o sector.
A qualidade dos materiais tornou-se numa lotaria perigosa. Com a inflação a subir, muitas empresas recorrem a materiais de qualidade duvidosa, especialmente em elementos que não são visíveis a olho nu. O isolamento, as tubagens, os cabos elétricos - são estas as áreas onde se fazem os cortes mais perigosos. E quando descobres o problema, já é tarde demais.
Os prazos de entrega são outra ficção criativa que merece um prémio literário. Aquelas promessas de "três meses" transformam-se regularmente em seis, oito ou até doze meses de obras. Conversei com um casal do Porto que viveu nove meses num quarto de hotel porque a sua renovação de cozinha e casa de banho se transformou num pesadelo burocrático.
Mas o aspecto mais preocupante que descobri foi a falta de qualificação de muitos "profissionais". Num mercado saturado de oportunistas, encontrar alguém com formação adequada tornou-se um desafio hercúleo. As histórias de electricistas que não sabem ler diagramas ou pedreiros que nunca ouviram falar de normas de segurança são mais comuns do que imaginas.
E depois há o drama dos intermediários. Plataformas como CasasApo ou Homify funcionam como vitrines brilhantes, mas muitas vezes escondem redes complexas de subcontratação. O profissional que aparece no site raramente é quem vai trabalhar na tua casa. É uma cadeia de responsabilidades tão confusa que, quando algo corre mal, ninguém assume a culpa.
A questão dos licenciamentos é outra armadilha bem escondida. Muitos proprietários descobrem, já com a obra avançada, que precisam de autorizações que nunca lhes foram mencionadas. O resultado? Obras paradas, multas e, nos casos mais extremos, ordens de demolição.
Os testemunhos que recolhi pintam um retrato alarmante. Maria, de Lisboa, contratou uma empresa através de uma plataforma online para renovar o seu apartamento. "Parecia tudo perfeito até ao dia em que desapareceram com 8.000 euros do adiantamento. Nunca mais os vi, e a plataforma disse que não podia fazer nada porque era um acordo direto entre mim e a empresa."
João, de Braga, partilha uma experiência igualmente perturbadora: "Contratei um arquitecto que me garantiu que tudo estava dentro da lei. Seis meses depois da obra terminada, recebi uma notificação da câmara municipal porque a remodelação da cozinha violava normas de ventilação. Tive que gastar mais 4.000 euros para corrigir o erro."
E não pensem que este é apenas um problema das grandes cidades. Nas zonas rurais, a situação é ainda mais complicada. A escassez de profissionais qualificados obriga os proprietários a aceitarem quem aparece, muitas vezes sem qualquer tipo de garantia ou contrato adequado.
As soluções? Existem, mas exigem trabalho de detective. Verificar licenças, pedir referências reais (não apenas as que vêm no site), visitar obras anteriores e, o mais importante, nunca pagar adiantamentos significativos. Um bom profissional entenderá estas precauções.
O sector precisa urgentemente de mais transparência e regulamentação. Enquanto isso não acontece, a melhor defesa é o conhecimento. Saber que os problemas existem é o primeiro passo para os evitar.
Esta investigação não pretende desencorajar a renovação de casas, mas sim alertar para os perigos escondidos. Com informação adequada e as devidas precauções, ainda é possível transformar a tua casa sem transformar a tua vida num pesadelo.
O lado oculto da renovação de casas em Portugal: o que ninguém te conta
