Há um mundo paralelo ao das fotografias perfeitas que inundam as revistas de decoração. Enquanto os catálogos nos mostram sofás imaculados e cozinhas que parecem saídas de um filme, a realidade da maioria dos portugueses é bem diferente. As paredes têm humidade, os espaços são pequenos demais para os móveis de sonho, e o orçamento nunca chega para aquela iluminação profissional que vimos no Pinterest.
A verdade é que a decoração de interiores tornou-se numa indústria que vende sonhos inatingíveis. Visitando sites como Decoproteste e Homify, percebe-se rapidamente que há uma desconexão entre o que é apresentado como ideal e o que é realmente praticável. As pessoas comuns não têm equipas de estilistas nem orçamentos ilimitados - têm contas para pagar e vidas para viver nos espaços que decoram.
Um dos maiores segredos que ninguém conta é sobre a durabilidade real dos materiais. Aquela mesa de madeira maciça que custou três salários mínimos pode rachar com as mudanças de temperatura típicas do clima português. E os sofás de tecido claro que parecem tão elegantes nas fotografias transformam-se num pesadelo quando há crianças ou animais em casa. A funcionalidade deveria sempre sobrepor-se à estética, mas raramente é isso que vemos nas revistas especializadas.
Outro aspecto negligenciado é a psicologia dos espaços. Como é que a disposição dos móveis afecta o nosso humor? Porque é que certos quartos nos fazem sentir ansiosos enquanto outros nos acalmam instantaneamente? A resposta está na forma como circulamos pelos espaços e na maneira como a luz natural nos atinge ao longo do dia. Estes são detalhes que os decoradores de Instagram ignoram, mas que fazem toda a diferença na qualidade de vida.
A sustentabilidade é outra grande lacuna no discurso mainstream sobre decoração. Enquanto somos encorajados a trocar de mobília a cada tendência, o planeta sofre com o desperdício. A verdadeira elegância está em saber conservar e restaurar, não em substituir. Móveis com história têm uma alma que nenhuma peça nova consegue replicar - e o ambiente agradece.
Finalmente, há todo um universo de soluções criativas que ninguém explora porque não são comercialmente interessantes. Desde usar caixas de fruta como estantes até transformar portas antigas em mesas de jantar, a verdadeira magia da decoração acontece quando paramos de seguir receitas prontas e começamos a criar as nossas próprias soluções. É nesta intersecção entre necessidade e criatividade que nascem os espaços realmente memoráveis.
O que falta na conversa sobre decoração é honestidade. Precisamos de menos perfeição artificial e mais realidade adaptada. Menos tendências passageiras e mais soluções duradouras. Porque no fim do dia, uma casa não é um cenário de fotografia - é o palco onde vivemos as nossas vidas.
O lado oculto da decoração de interiores: segredos que as revistas não contam
