O setor energético português vive um momento de transição profunda, marcado por avanços significativos nas renováveis, mas também por desafios persistentes na dependência externa e na volatilidade dos preços. Nos últimos anos, Portugal tornou-se um caso de estudo na Europa, com investimentos robustos em solar e eólica, embora a sombra do gás natural e a incerteza geopolítica continuem a pairar sobre a economia.
A aposta nas energias renováveis não é apenas uma questão ambiental, mas uma estratégia económica crucial. Projectos como a central solar do Alentejo ou os parques eólicos offshore em planeamento mostram como o país está a diversificar a sua matriz energética. No entanto, esta transição esbarra em obstáculos logísticos e financeiros, desde a lentidão nas licenças até aos custos de armazenamento, que ainda limitam o potencial total das renováveis.
Os preços da energia continuam a ser uma dor de cabeça para famílias e empresas. A inflação energética, embora tenha abrandado face aos picos de 2022, mantém-se acima dos níveis pré-crise, pressionando o poder de compra e a competitividade das PMEs. A indexação aos mercados internacionais e a falta de concorrência no sector distribuidor são factores que explicam parte desta rigidez nos custos.
A dependência de importações de gás e petróleo coloca Portugal numa posição vulnerável perante choques externos. A guerra na Ucrânia evidenciou esta fragilidade, forçando o país a acelerar planos de diversificação de fornecedores e a apostar em terminais de GNL como o de Sines. Ainda assim, a autonomia energética permanece um objectivo distante, com mais de 70% da energia primária a vir do exterior.
O hidrogénio verde surge como a grande promessa para descarbonizar sectores difíceis de electrificar, como a indústria pesada ou os transportes de longa distância. Projectos-piloto no Porto de Lisboa e na refinaria de Sines estão a testar a viabilidade desta tecnologia, mas o caminho até à escala comercial é longo e cheio de incógnitas, desde os custos de produção até à criação de uma rede de distribuição dedicada.
A eficiência energética é outra frente onde Portugal tem margem para melhorar. Programas de apoio à renovação de edifícios e à adopção de veículos eléctricos estão a ganhar tracção, mas a taxa de renovação do parque habitacional continua lenta, e a rede de carregamento para EVs ainda não cobre todo o território de forma equilibrada.
Olhando para o futuro, a digitalização do sector – com smart grids e contadores inteligentes – promete optimizar o consumo e integrar melhor as renováveis. No entanto, esta evolução exige investimentos maciços em infraestruturas e levanta questões sobre privacidade e cibersegurança, que terão de ser abordadas com transparência.
Em suma, o panorama energético português é de contrastes: uma liderança europeia em renováveis convive com vulnerabilidades ancestrais na dependência externa. Os próximos anos serão decisivos para consolidar os ganhos verdes e reduzir os riscos geopolíticos, num equilíbrio delicado entre ambição e pragmatismo.
O futuro da energia em Portugal: entre renováveis, preços e dependência externa
