Portugal está a viver uma transformação energética sem precedentes, uma revolução que acontece sem alaridos mas com resultados tangíveis. Nos últimos anos, o país tem batido recordes atrás de recordes na produção de energia renovável, colocando-se na vanguarda da transição energética europeia. Esta mudança não é apenas técnica - está a redefinir a nossa relação com a energia e a abrir novas oportunidades económicas.
Os números falam por si: em 2023, as renováveis representaram mais de 60% do consumo eléctrico nacional, um feito notável para um país que ainda há duas décadas dependia maioritariamente de combustíveis fósseis. O vento e o sol, recursos que sempre tivemos em abundância, tornaram-se os novos motores da nossa economia energética. Esta transformação não aconteceu por acaso - foi resultado de políticas visionárias e investimentos estratégicos.
O sector eólico continua a ser o pilar desta revolução verde. Os parques eólicos espalhados pelo território nacional, particularmente no Norte e Centro do país, têm vindo a aumentar a sua capacidade de forma consistente. A tecnologia evoluiu dramaticamente: as turbinas modernas são mais eficientes, mais silenciosas e capazes de capturar energia mesmo com ventos mais suaves. Esta evolução tecnológica permitiu reduzir os custos de produção para níveis competitivos com as fontes tradicionais.
Mas a verdadeira estrela emergente é a energia solar. Os vastos telhados de armazéns industriais, centros comerciais e até habitações particulares estão a ser convertidos em centrais de produção de energia. O programa de autoconsumo tem tido uma adesão surpreendente, com milhares de portugueses a instalarem painéis solares nas suas casas. Esta democratização da produção energética está a criar uma nova cultura de independência energética entre os cidadãos.
O armazenamento de energia tornou-se o próximo grande desafio. As baterias de grande escala e as soluções de hidrogénio verde estão a ganhar terreno como forma de guardar o excesso de produção das horas de maior irradiação solar ou vento. Vários projectos piloto estão em curso no Alentejo e no Algarve, regiões com maior potencial solar, testando tecnologias inovadoras que podem resolver o problema da intermitência das renováveis.
A transição energética está também a criar novas dinâmicas económicas. Empresas portuguesas estão a posicionar-se como players internacionais no sector das renováveis, exportando know-how e tecnologia. O cluster energético nacional tem vindo a atrair investimento estrangeiro, particularmente na área do hidrogénio verde, onde Portugal aspira a tornar-se um hub europeu.
Os consumidores começam agora a colher os frutos desta transformação. A descida dos preços da electricidade no mercado grossista reflecte a maior penetração das renováveis, que têm custos marginais próximos de zero. Esta tendência deverá acentuar-se nos próximos anos, à medida que mais capacidade renovável entra em operação.
No entanto, desafios persistem. A rede eléctrica nacional precisa de adaptações profundas para acomodar a produção descentralizada e intermitente. Os processos de licenciamento continuam a ser um entrave ao desenvolvimento mais rápido de projectos. E a aceitação pública, embora geralmente positiva, exige uma comunicação transparente sobre os impactos visuais e ambientais dos novos projectos.
O futuro parece promissor. Os compromissos assumidos no âmbito do Plano Nacional de Energia e Clima apontam para uma electricidade 80% renovável até 2030. Esta ambição coloca Portugal no grupo de países mais avançados na descarbonização da sua economia.
Esta revolução energética silenciosa está a redesenhar não apenas o nosso mix energético, mas também a nossa paisagem económica e social. Estamos a testemunhar a emergência de um novo paradigma, onde a energia limpa e acessível se torna a base do nosso desenvolvimento sustentável. O vento e o sol, outrora elementos meramente climáticos, transformaram-se nos alicerces do Portugal do século XXI.
A revolução silenciosa das energias renováveis em Portugal: como o vento e o sol estão a transformar o nosso futuro energético
