Seguros

Energia

Serviços domésticos

Telecomunicações

Saúde

Segurança Doméstica

Energia Solar

Seguro Automóvel

Aparelhos Auditivos

Créditos

Educação

Paixão por carros

Seguro de Animais de Estimação

Blogue

O silêncio que mata: como o estigma ainda impede os portugueses de falar sobre saúde mental

Num país onde se fala abertamente de futebol, política e até do tempo, há um tema que ainda permanece envolto em sombras: a saúde mental. Pelos cafés de Lisboa às esplanadas do Porto, as conversas fluem sobre tudo, menos sobre aquilo que verdadeiramente importa - o bem-estar emocional dos portugueses.

Dados recentes do Serviço Nacional de Saúde revelam que cerca de 23% da população portuguesa sofre de algum tipo de perturbação mental, números que espelham uma realidade silenciosa que percorre as ruas do país. A depressão, a ansiedade e o burnout não escolhem idade, género ou estatuto social, mas o estigma que as acompanha continua a ser uma barreira intransponível para muitos.

O Dr. Miguel Santos, psiquiatra no Hospital de Santa Maria, confirma: "Atendemos diariamente pessoas que chegam ao limite antes de procurar ajuda. O medo do julgamento social é, muitas vezes, mais paralisante do que a própria doença". Esta realidade é particularmente preocupante entre os homens com mais de 40 anos, grupo onde as taxas de suicídio atingem números alarmantes.

Mas nem tudo são más notícias. Nos últimos dois anos, assistimos a uma mudança gradual no panorama nacional. Projectos como a Linha SOS Voz Amiga e a crescente presença de psicólogos nos centros de saúde representam passos importantes na direcção certa. A geração mais jovem, mais informada e conectada, começa a quebrar tabus ancestrais.

A tecnologia surge como aliada nesta batalha silenciosa. Aplicações móveis de mindfulness, consultas online e fóruns de discussão criam espaços seguros onde as pessoas podem partilhar experiências sem medo de serem julgadas. "A digitalização dos cuidados de saúde mental veio para ficar", afirma a psicóloga Carolina Mendes, especialista em terapia digital.

No entanto, os desafios persistem. O acesso aos cuidados especializados ainda é desigual entre regiões, com o interior a registar carências significativas. O tempo de espera para uma primeira consulta de psiquiatria pode chegar a seis meses em alguns distritos, um período crítico para quem sofre em silêncio.

O local de trabalho tornou-se outra frente de batalha. Com o aumento do teletrabalho e a blurring das fronteiras entre vida profissional e pessoal, casos de burnout dispararam. Empresas progressistas já implementam programas de wellness corporativo, mas ainda são excepção num mercado onde a produtividade continua a sobrepor-se ao bem-estar.

A educação emocional nas escolas surge como esperança para as próximas gerações. Projectos-piloto em estabelecimentos de ensino do norte do país mostram resultados promissores: crianças que aprendem a identificar e gerir emoções tornam-se adultos mais resilientes. "Prevenir é melhor que remediar, e a saúde mental não é excepção", defende a professora Isabel Teixeira, mentora de um destes programas.

O caminho a percorrer ainda é longo, mas os primeiros passos já foram dados. Falar abertamente sobre saúde mental deixou de ser tabu para se tornar necessidade urgente. Cada conversa, cada partilha, cada gesto de compreensão é um tijolo na construção de uma sociedade mais saudável e empática.

Afinal, como bem sabem os profissionais da área, a saúde mental não é ausência de doença, mas presença de bem-estar. E esse bem-estar constrói-se dia após dia, conversa após conversa, quebrando o silêncio que durante demasiado tempo nos impediu de cuidar uns dos outros.

Tags