O silêncio que mata: a epidemia silenciosa da saúde mental masculina em Portugal
Num país onde se fala abertamente de futebol, política e até do tempo, há um tema que permanece envolto em sombras: a saúde mental dos homens portugueses. Enquanto percorro os corredores do Hospital de Santa Maria, o psiquiatra Miguel Santos partilha números que doem: "75% dos suicídios em Portugal são cometidos por homens. Eles chegam-nos quando já não aguentam mais, mas a maioria sofre em silêncio durante anos".
A cultura do "homem que não chora" está a revelar-se mortal. Nos cafés, nos escritórios, nas obras, gerações de portugueses aprenderam que demonstrar vulnerabilidade é sinal de fraqueza. "O meu avô dizia que os homens resolvem os problemas sozinhos", confessa Ricardo, 42 anos, empresário que há seis meses iniciou terapia após uma crise de pânico. "Cresci a achar que pedir ajuda era falhar como homem".
Os números do Serviço Nacional de Saúde contam uma história preocupante: os homens representam apenas 30% das consultas de psicologia e psiquiatria, apesar de estudos indicarem que sofrem de depressão e ansiedade em percentagens semelhantes às mulheres. "Eles aparecem já com problemas muito graves, muitas vezes encaminhados pelos médicos de família após queixas físicas que mascaravam sofrimento psicológico", explica a psicóloga clínica Ana Matos.
No mundo do trabalho, a pressão é particularmente intensa. Entre os 40 e os 55 anos, a taxa de suicídio masculino triplica. "São homens na meia-idade, muitas vezes com cargos de responsabilidade, que sentem que não podem falhar", descreve o investigador Pedro Costa, que estuda saúde mental masculina há uma década. "O desemprego, as dívidas, a pressão para serem provedores - é uma tempestade perfeita".
As zonas rurais do interior contam histórias ainda mais silenciosas. Em aldeias onde todos se conhecem, procurar ajuda para problemas de saúde mental continua a ser tabu. "Há homens que preferem percorrer 100 quilómetros para ter uma consulta onde ninguém os reconheça", relata uma médica de família do Alentejo que prefere não ser identificada.
Mas há sinais de mudança. Nas redes sociais, grupos como "Homens que Falam" ganham milhares de seguidores. Nas empresas, programas de bem-estar mental começam a incluir linguagem específica para homens. "Temos de desconstruir a ideia de que força é calar a dor", defende o coach João Silva, ele próprio um sobrevivente de depressão.
O sistema de saúde prepara-se para uma revolução silenciosa. Unidades móveis de saúde mental percorrem zonas rurais, campanhas publicitárias mostram homens famosos a falar das suas lutas, e os mais jovens parecem mais abertos a quebrar o ciclo. "O meu filho de 16 anos já me diz que os homens também choram", sorri um pai de 50 anos durante uma sessão de terapia de grupo.
A estrada é longa, mas o primeiro passo - reconhecer que existe um problema - está a ser dado. Como me diz um reformado de 68 anos no final da nossa conversa: "Demorei 40 anos a perceber que falar não é fraqueza. É coragem". E talvez seja essa a lição mais importante: que a verdadeira força reside na capacidade de pedir ajuda quando se precisa.
A cultura do "homem que não chora" está a revelar-se mortal. Nos cafés, nos escritórios, nas obras, gerações de portugueses aprenderam que demonstrar vulnerabilidade é sinal de fraqueza. "O meu avô dizia que os homens resolvem os problemas sozinhos", confessa Ricardo, 42 anos, empresário que há seis meses iniciou terapia após uma crise de pânico. "Cresci a achar que pedir ajuda era falhar como homem".
Os números do Serviço Nacional de Saúde contam uma história preocupante: os homens representam apenas 30% das consultas de psicologia e psiquiatria, apesar de estudos indicarem que sofrem de depressão e ansiedade em percentagens semelhantes às mulheres. "Eles aparecem já com problemas muito graves, muitas vezes encaminhados pelos médicos de família após queixas físicas que mascaravam sofrimento psicológico", explica a psicóloga clínica Ana Matos.
No mundo do trabalho, a pressão é particularmente intensa. Entre os 40 e os 55 anos, a taxa de suicídio masculino triplica. "São homens na meia-idade, muitas vezes com cargos de responsabilidade, que sentem que não podem falhar", descreve o investigador Pedro Costa, que estuda saúde mental masculina há uma década. "O desemprego, as dívidas, a pressão para serem provedores - é uma tempestade perfeita".
As zonas rurais do interior contam histórias ainda mais silenciosas. Em aldeias onde todos se conhecem, procurar ajuda para problemas de saúde mental continua a ser tabu. "Há homens que preferem percorrer 100 quilómetros para ter uma consulta onde ninguém os reconheça", relata uma médica de família do Alentejo que prefere não ser identificada.
Mas há sinais de mudança. Nas redes sociais, grupos como "Homens que Falam" ganham milhares de seguidores. Nas empresas, programas de bem-estar mental começam a incluir linguagem específica para homens. "Temos de desconstruir a ideia de que força é calar a dor", defende o coach João Silva, ele próprio um sobrevivente de depressão.
O sistema de saúde prepara-se para uma revolução silenciosa. Unidades móveis de saúde mental percorrem zonas rurais, campanhas publicitárias mostram homens famosos a falar das suas lutas, e os mais jovens parecem mais abertos a quebrar o ciclo. "O meu filho de 16 anos já me diz que os homens também choram", sorri um pai de 50 anos durante uma sessão de terapia de grupo.
A estrada é longa, mas o primeiro passo - reconhecer que existe um problema - está a ser dado. Como me diz um reformado de 68 anos no final da nossa conversa: "Demorei 40 anos a perceber que falar não é fraqueza. É coragem". E talvez seja essa a lição mais importante: que a verdadeira força reside na capacidade de pedir ajuda quando se precisa.