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O silêncio que mata: a epidemia silenciosa da saúde mental em Portugal

Nos corredores dos hospitais portugueses, há uma guerra que não se vê nos boletins clínicos. Enquanto o país discute listas de espera e falta de médicos, uma epidemia silenciosa vai minando a saúde dos portugueses. Dados recentes do Serviço Nacional de Saúde revelam que as consultas de psiquiatria e psicologia aumentaram 47% nos últimos três anos, mas a realidade escondida é muito mais sombria.

Os números oficiais mostram apenas a ponta do iceberg. Segundo um estudo da Ordem dos Psicólogos, 60% dos portugueses com problemas de saúde mental nunca procuraram ajuda profissional. O estigma ainda pesa como uma âncora numa sociedade que valoriza a resistência acima do bem-estar. "É mais fácil dizer que se tem uma dor nas costas do que admitir que se está deprimido", confessa Maria, uma professora de 42 anos que há dois anos luta contra a ansiedade.

O sistema de saúde mental em Portugal vive uma contradição perigosa. Por um lado, temos alguns dos melhores profissionais da Europa, reconhecidos internacionalmente pela sua competência. Por outro, a rede de cuidados continua fragmentada e insuficiente para a demanda real. Nas urgências dos hospitais, os casos de crise psicológica são muitas vezes tratados com medicação rápida e alta precoce, sem o acompanhamento necessário.

A pandemia veio agravar uma situação já precária. O isolamento social, o medo do desemprego e a sobrecarga dos sistemas de saúde criaram uma tempestade perfeita para o surgimento de novas patologias e agravamento das existentes. Os jovens são particularmente vulneráveis - a geração que cresceu entre ecrãs agora enfrenta níveis recorde de solidão e ansiedade social.

Mas há esperança no horizonte. Projectos inovadores estão a surgir por todo o país, desde consultas online subsidiadas pelo SNS até programas de mindfulness nas escolas. A telepsicologia revelou-se uma ferramenta poderosa para chegar a comunidades rurais e idosos que antes ficavam excluídos dos cuidados. Empresas progressistas começam a implementar programas de bem-estar mental, reconhecendo que funcionários saudáveis são mais produtivos.

O maior desafio, contudo, continua a ser cultural. Precisamos de normalizar a conversa sobre saúde mental, de a trazer para as mesas de café e para as salas de professores. Como país, temos de perceber que cuidar da mente não é um luxo - é uma necessidade básica de saúde pública. As campanhas de sensibilização estão a dar os primeiros passos, mas é preciso mais investimento e, sobretudo, mais coragem para falar abertamente sobre o sofrimento psicológico.

Os especialistas alertam: sem uma estratégia nacional concertada para a saúde mental, os custos sociais e económicos serão devastadores. Cada euro investido em prevenção poupa dez em tratamentos e perda de produtividade. Mas para além dos números, há vidas em jogo - pais que não conseguem cuidar dos filhos, jovens que abandonam os estudos, profissionais talentosos que queimam etapas.

A solução passa por uma abordagem integrada que envolva escolas, empresas, autarquias e o próprio SNS. Precisamos de mais psicólogos nas unidades de saúde familiar, de programas de detecção precoce nas escolas e de formação específica para os médicos de família. Acima de tudo, precisamos de quebrar o silêncio que ainda envolve as doenças mentais.

Portugal tem a oportunidade de se tornar um exemplo na área da saúde mental. Com a criatividade que nos caracteriza e a resiliência que mostrámos em tantas crises, podemos construir um sistema que não apenas trata, mas previne e promove o bem-estar psicológico. O primeiro passo é simples: começar a falar. Porque no silêncio é que as epidemias mais perigosas prosperam.

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