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A revolução silenciosa na saúde mental portuguesa: como estamos a mudar a forma de cuidar da mente

Nos corredores silenciosos dos hospitais portugueses, uma transformação está a acontecer. Não é barulhenta, não faz manchetes, mas está a redefinir completamente a forma como encaramos a saúde mental em Portugal. Enquanto o país debate os grandes temas da saúde pública, uma revolução mais subtil está em curso nos consultórios, nas unidades de saúde familiar e até nas empresas.

Há dez anos, falar de depressão ou ansiedade era quase um tabu. Hoje, os números contam uma história diferente. Segundo dados recentes, as consultas de psicologia no Serviço Nacional de Saúde aumentaram 47% nos últimos três anos. Mas os números são apenas o início da história. O que realmente importa é a mudança cultural que está a ocorrer.

Nas empresas portuguesas, os programas de bem-estar mental deixaram de ser um luxo para se tornarem uma necessidade. Empresas como a NOS, a EDP e até startups mais pequenas estão a implementar sistemas de apoio psicológico para os seus colaboradores. "Percebemos que um colaborador com saúde mental cuidada é mais produtivo, mais criativo e mais feliz", explica Maria Santos, responsável de recursos humanos de uma multinacional com sede em Lisboa.

Mas a verdadeira mudança está a acontecer nas escolas. Programas de educação emocional estão a ser implementados desde o primeiro ciclo, ensinando às crianças ferramentas para gerir o stress e as emoções. "Estamos a preparar uma geração que vai encarar a saúde mental com a mesma naturalidade com que encara a saúde física", afirma o psicólogo Eduardo Marques, que coordena um desses programas no norte do país.

O digital também está a desempenhar um papel crucial. Aplicações portuguesas de meditação e mindfulness estão a ganhar popularidade, enquanto as consultas online tornaram o acesso à psicoterapia possível mesmo nas zonas mais remotas do país. "Atendemos pessoas de aldeias onde nunca houve um psicólogo", conta Sofia Mendes, fundadora de uma plataforma de telepsicologia.

No entanto, os desafios persistem. O estigma ainda existe, especialmente entre as gerações mais velhas, e o acesso aos cuidados especializados continua desigual entre regiões. Enquanto Lisboa e Porto oferecem uma rede relativamente robusta, no interior o cenário é bem diferente.

Os especialistas alertam para outro fenómeno: a medicalização excessiva. "Há uma tendência para medicar primeiro e perguntar depois", critica o psiquiatra João Silva. "Precisamos de encontrar um equilíbrio entre a medicação necessária e as terapias não farmacológicas."

O futuro, contudo, parece promissor. Novas abordagens como a terapia assistida por animais, a arte-terapia e até o uso controlado de substâncias psicadélicas em contextos terapêuticos estão a ser estudadas em universidades portuguesas. "Estamos na vanguarda da investigação em saúde mental", garante a investigadora Carla Oliveira da Universidade do Porto.

O que esta revolução silenciosa nos mostra é que cuidar da mente deixou de ser um assunto de nicho para se tornar uma preocupação mainstream. Das salas de aula aos escritórios, dos centros de saúde às universidades, Portugal está a aprender que saúde mental não é ausência de doença, mas sim a capacidade de viver plenamente.

Esta mudança não acontece por acaso. Resulta de anos de trabalho de profissionais dedicados, de campanhas de sensibilização e, acima de tudo, da coragem de cada pessoa que decide procurar ajuda. Ainda há um longo caminho a percorrer, mas os sinais são encorajadores.

Nas palavras de uma jovem que frequenta terapia há seis meses: "Aprendi que pedir ajuda não é sinal de fraqueza, mas de força. E que cuidar da minha mente é tão importante como cuidar do meu corpo." Talvez seja esta a maior conquista de todas: normalizar o cuidado mental como parte integrante do bem-estar geral.

Enquanto observamos esta evolução, torna-se claro que a saúde mental em Portugal está a deixar as sombras para ocupar o lugar que merece no centro das discussões sobre saúde pública. E isso, sem dúvida, é uma notícia que merece ser celebrada.

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