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A revolução silenciosa da medicina personalizada: como os seus genes estão a mudar os tratamentos

Na sala de cirurgia do Hospital de Santa Maria, um homem de 62 anos aguarda uma intervenção que seria impensável há uma década. O tumor no seu pulmão não será tratado com a quimioterapia padrão, mas com um cocktail de medicamentos desenhado especificamente para o seu perfil genético. Esta não é ficção científica - é a nova realidade da medicina personalizada que está a transformar a forma como encaramos doenças crónicas, cancro e até condições neurológicas.

A chave desta revolução está no sequenciamento genético, uma tecnologia que passou de custar milhões de euros para menos de 300 euros por análise. "Estamos a deixar de tratar doenças para tratar pessoas", explica a Dra. Sofia Martins, geneticista do Instituto de Medicina Molecular. "Cada organismo reage de forma única aos medicamentos, e agora temos ferramentas para prever essas reações antes mesmo da primeira dose."

Os avanços não se limitam à oncologia. Na psiquiatria, testes genéticos estão a ajudar a determinar quais os antidepressivos com maior probabilidade de sucesso, reduzindo o tradicional período de tentativa e erro que pode durar meses. Na cardiologia, marcadores genéticos permitem identificar predisposições para arritmias graves anos antes dos primeiros sintomas.

Mas esta revolução traz desafios éticos profundos. Quem deve ter acesso aos dados genéticos? Seguradoras podem usar esta informação para calcular prémios? E o que acontece quando um teste revela uma predisposição para uma doença incurável? "Temos de construir guarda-éticas sólidas enquanto a tecnologia avança", alerta o bioeticista Professor Carlos Vieira.

O sistema nacional de saúde português começa a integrar estas abordagens, com projetos-piloto em hospitais de Lisboa, Porto e Coimbra. Ainda assim, especialistas alertam para o risco de criar uma medicina a duas velocidades, onde apenas quem pode pagar tem acesso aos tratamentos mais avançados.

Para além dos aspetos clínicos, a medicina personalizada está a mudar a relação entre médicos e pacientes. "Os doentes chegam às consultas com testes genéticos feitos em casa, muitos deles de valor duvidoso", conta o Dr. Miguel Sousa, clínico geral. "Temos de educar para o uso responsável desta informação."

O futuro promete ainda mais personalização. Investigadores do i3S estão a trabalhar em organoides - mini-órgãos criados a partir de células dos pacientes - que permitem testar dezenas de tratamentos em laboratório antes de os administrar no corpo humano. "É como ter um duplo do paciente numa placa de Petri", descreve a investigadora Ana Lopes.

Enquanto a regulamentação tenta acompanhar a velocidade da inovação, os benefícios já são visíveis. Redução de efeitos secundários, tratamentos mais eficazes e uma abordagem verdadeiramente preventiva da medicina estão a tornar-se realidade. A era do "um tamanho serve todos" na saúde está com os dias contados, e Portugal não quer ficar para trás nesta transformação que está a reescrever o futuro da medicina.

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