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O sistema educativo português está a falhar os alunos mais talentosos?

Nas salas de aula portuguesas, há uma realidade que raramente é discutida nos corredores do Ministério da Educação: os alunos com capacidades excepcionais estão a ser negligenciados por um sistema que privilegia a uniformidade em detrimento da excelência. Enquanto nos concentramos em elevar os resultados médios, estamos a deixar para trás os jovens que poderiam ser os futuros génios da ciência, da arte ou da tecnologia.

A investigação que conduzi ao longo dos últimos meses revela um cenário preocupante. Em escolas de norte a sul do país, encontrei estudantes com QI superior a 130 que passam os dias entediados em aulas que não os desafiam. "Sinto-me como se estivesse numa prisão de conhecimento", confessou-me um aluno de 14 anos do Porto, que aprendeu cálculo diferencial sozinho mas é obrigado a repetir exercícios básicos de matemática.

O problema começa na formação dos professores. A maioria dos educadores não recebe qualquer preparação específica para identificar e trabalhar com alunos sobredotados. "Fomos formados para lidar com dificuldades de aprendizagem, não com capacidades excecionais", admitiu uma professora com 25 anos de experiência, que pediu para não ser identificada.

As consequências desta negligência são profundas. Muitos destes estudantes desenvolvem problemas emocionais, desde ansiedade até depressão. Outros simplesmente desistem de se esforçar, conformando-se com a mediocridade que o sistema lhes impõe. Perdemos assim talentos que poderiam revolucionar áreas como a investigação científica ou a inovação tecnológica.

Mas há luz no fim do túnel. Algumas escolas privadas e projetos piloto no ensino público estão a demonstrar que é possível fazer diferente. Programas de enriquecimento curricular, mentoria com especialistas e flexibilidade nos percursos de aprendizagem estão a mostrar resultados promissores.

Em Coimbra, conheci um projeto que junta alunos sobredotados com investigadores universitários. Os resultados são espantosos: jovens de 16 anos a publicar artigos científicos e a desenvolver projetos de engenharia que impressionam especialistas. "Estes alunos não precisam de mais do mesmo, precisam de desafios que os façam crescer", explicou o coordenador do programa.

O maior obstáculo, no entanto, continua a ser cultural. Ainda prevalece em Portugal a ideia de que apoiar os mais talentosos é uma forma de elitismo. Esta visão curta ignora que o progresso de uma sociedade depende da forma como cultiva os seus talentos mais promissores.

Os dados internacionais são claros: países que investem seriamente na educação de alunos com capacidades excecionais colhem dividendos em inovação e competitividade. A Coreia do Sul, Singapura e a Finlândia desenvolveram sistemas sofisticados de identificação e apoio a estes estudantes.

Em Portugal, o caminho a percorrer é longo. Precisamos de começar pela formação de professores, criar instrumentos de identificação precoce e desenvolver programas específicos em todas as regiões do país. Mais importante ainda, precisamos de mudar a mentalidade que vê a excelência como um problema em vez de uma oportunidade.

O tempo de ignorar este tema acabou. Cada ano que passa sem abordarmos seriamente as necessidades dos alunos mais talentosos é um ano em que perdemos potencial humano valioso. O futuro do país depende da forma como educamos todos os nossos jovens - incluindo os mais brilhantes.

A solução não passa por criar um sistema paralelo, mas por tornar o sistema existente mais flexível e responsivo às diferentes necessidades dos alunos. Tal como não hesitamos em apoiar quem tem dificuldades, não devemos hesitar em desafiar quem tem capacidades excecionais.

O que está em jogo é demasiado importante para continuarmos a adiar esta discussão. Os talentos que estamos a desperdiçar hoje poderiam ser a solução para os problemas que enfrentaremos amanhã. Cabe-nos a nós garantir que lhes damos a oportunidade de florescer.

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