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O silêncio que ensina: quando as escolas portuguesas descobrem o poder do mindfulness

Num canto tranquilo da Escola Básica de São João, em Lisboa, um grupo de crianças de 8 anos senta-se em círculo. Os olhos fechados, as mãos repousam sobre os joelhos. Durante cinco minutos, não há exercícios de matemática, nem ditados, nem trabalhos manuais. Há apenas silêncio. Esta cena, que poderia parecer estranha há uma década, torna-se cada vez mais comum nas escolas portuguesas. E os resultados estão a surpreender educadores, pais e, sobretudo, as próprias crianças.

A prática do mindfulness nas escolas não é nova a nível internacional, mas em Portugal chegou discretamente, quase como um segredo bem guardado entre professores inovadores. Começou em meia dúzia de estabelecimentos privados, espalhou-se para algumas escolas públicas pioneiras e hoje já não é raro encontrar alunos do primeiro ciclo que conseguem explicar o que é "estar presente" melhor do que muitos adultos.

A transformação é visível nos pátios durante os intervalos. Onde antes predominavam correrias desenfreadas e gritaria, começam a surgir cantinhos de calma. Crianças que aprendem a respirar antes de responder, que identificam as suas emoções com nomes precisos, que param para observar uma formiga a carregar uma migalha. São pequenas revoluções que estão a mudar o clima escolar.

Mas o mindfulness não se limita a acalmar os recreios. Nas salas de aula, os professores relatam melhorias significativas na concentração. "Noto que após os exercícios de respiração, os alunos mantêm o foco durante mais tempo nas atividades", conta Maria João Silva, professora há 25 anos. "E o mais interessante é que eles próprios pedem para fazer os exercícios quando se sentem mais agitados."

Os benefícios estendem-se além do rendimento académico. Estudos realizados em escolas portuguesas que implementaram programas estruturados de mindfulness mostram reduções nos níveis de ansiedade entre os alunos, menor incidência de conflitos e melhores relações entre pares. Num país onde os números de burnout infantil e adolescente têm vindo a aumentar, estas práticas surgem como uma ferramenta preciosa.

O sucesso destas iniciativas tem levado a Direção-Geral da Educação a considerar a inclusão do desenvolvimento de competências socioemocionais de forma mais sistemática no currículo. Não como uma disciplina separada, mas integrada na prática diária, à semelhança do que já acontece em países como o Reino Unido e a Holanda.

Os pais, inicialmente céticos, tornam-se rapidamente adeptos quando testemunham as mudanças em casa. "O meu filho tinha dificuldade em adormecer, agora faz os exercícios de respiração que aprendeu na escola e adormece muito mais tranquilo", partilha Ana Lúcia Mendes, mãe de um aluno do 3º ano.

O desafio, claro, está na formação dos professores. Muitos educadores portugueses estão agora a receber formação específica em mindfulness, aprendendo não só a guiar os alunos nestas práticas, mas também a beneficiar delas nas suas próprias vidas profissionais. Professores menos stressados criam ambientes de aprendizagem mais saudáveis - é um ciclo virtuoso que está apenas a começar.

Nas escolas secundárias, o mindfulness assume outras formas. Os adolescentes aprendem a gerir a pressão dos exames, a lidar com as relações complexas da idade, a encontrar momentos de pausa num mundo hiperconectado. São ferramentas que, mais do que melhorar notas, preparam para a vida.

O movimento está a crescer organicamente, escola a escola, professor a professor. Não há um plano nacional, não há uma diretiva do ministério. Há simplesmente educadores que reconhecem que, por vezes, o silêncio ensina mais do que as palavras. E que preparar crianças e jovens para viverem bem consigo próprios é tão importante quanto prepará-los para os exames nacionais.

Enquanto isso, nas salas de aula portuguesas, continua o som do silêncio que educa. Um silêncio que não é vazio, mas cheio de possibilidades. Um silêncio que, afinal, tem muito para dizer sobre o futuro da educação em Portugal.

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