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O silêncio que educa: quando as escolas portuguesas se tornam espaços de meditação e mindfulness

Num canto tranquilo da Escola Secundária de Camões, em Lisboa, algo extraordinário acontece todas as manhãs. Vinte minutos antes do toque da primeira aula, um grupo de estudantes reúne-se voluntariamente para praticar algo que ainda é raro no sistema educativo português: meditação guiada. Enquanto os corredores começam a encher-se do habitual burburinho adolescente, esta sala permanece em silêncio quase absoluto, apenas quebrado pela voz suave da professora de filosofia que orienta a sessão.

Esta iniciativa, que começou como projeto piloto no ano letivo passado, transformou-se numa prática regular que já conta com mais de cinquenta participantes assíduos. "No início, os alunos vinham por curiosidade, alguns até para gozar", conta Maria João Silva, a professora responsável. "Mas rapidamente perceberam os benefícios. Hoje temos estudantes que chegam a faltar ao intervalo para não perderem a sessão de mindfulness."

O fenómeno não se limita a esta escola. Em Coimbra, a Escola Básica Rainha Santa Isabel implementou um programa semelhante após constatar que os níveis de ansiedade entre os alunos do 3º ciclo tinham aumentado 40% nos últimos três anos. "Começámos com sessões de cinco minutos no início das aulas de matemática, a disciplina que mais stress causava", explica o diretor Pedro Almeida. "Os resultados foram tão positivos que alargámos a prática a todo o agrupamento."

Os dados recolhidos pela escola são reveladores: redução de 35% nos conflitos entre alunos, melhoria de 28% na concentração durante as aulas e diminuição significativa das queixas de dores de cabeça e problemas de sono entre os estudantes. "Estamos a educar para a vida, não apenas para os exames", defende Almeida. "E isso inclui ensinar os jovens a gerir as suas emoções e o seu bem-estar mental."

Mas a introdução destas práticas no sistema educativo não tem sido pacífica. Encontra resistência em vários quadrantes, desde pais que consideram estas atividades uma perda de tempo até professores que as vêem como uma moda passageira. "Há quem diga que estamos a transformar as escolas em centros de yoga em vez de locais de aprendizagem", comenta Sofia Ribeiro, psicóloga escolar. "O que essas pessoas não entendem é que um aluno ansioso ou deprimido não consegue aprender, por mais que queira."

A ciência parece dar razão aos defensores do mindfulness na educação. Estudos recentes da Universidade do Minho mostram que a prática regular de meditação aumenta a espessura do córtex pré-frontal, área cerebral associada à atenção e ao controlo emocional. "Estamos literalmente a ajudar a moldar cérebros mais resilientes", afirma a investigadora Carla Mendes, que coordena um projeto de investigação sobre o tema.

Em Braga, uma escola primária decidiu ir mais longe e criou o que chama de "cantos da calma" em todas as salas de aula. São espaços pequenos, com almofadas, livros sobre emoções e objetos sensoriais, onde os alunos podem retirar-se quando se sentem sobrecarregados. "Aprendemos que às vezes as crianças precisam de um momento sozinhas para se recomporem", explica a educadora Ana Lúcia Santos. "Em vez de castigos, oferecemos ferramentas de autorregulação."

O sucesso destas iniciativas começa a chamar a atenção do Ministério da Educação. Está em discussão a possibilidade de incluir o desenvolvimento de competências socioemocionais no currículo nacional, seguindo exemplos de países como a Finlândia e o Canadá, onde estas práticas já são comuns. "Precisamos de preparar os nossos jovens para um mundo cada vez mais complexo e exigente", argumenta o secretário de Estado da Educação, João Costa. "E isso significa educar não apenas a mente, mas também o coração."

Enquanto o debate continua, nas escolas que já adotaram estas práticas os testemunhos multiplicam-se. "Antes destas sessões, chegava a casa exausto e irritado", confessa Miguel, aluno do 10º ano. "Agora consigo lidar melhor com a pressão dos testes e até durmo melhor." A sua colega Inês acrescenta: "Aprendi que parar não é perder tempo. Às vezes, é a coisa mais produtiva que podemos fazer."

O movimento está a ganhar força, com cada vez mais professores a receber formação em técnicas de mindfulness e meditação. Associações de pais começam a organizar sessões informativas e até algumas autarquias manifestam interesse em financiar projetos semelhantes noutras escolas. "Estamos perante uma mudança de paradigma na educação", conclui Maria João Silva. "Finalmente, estamos a perceber que educar significa cuidar da pessoa como um todo, não apenas prepará-la para os exames nacionais."

O que começou como experiências isoladas em algumas escolas portuguesas pode estar a transformar-se numa revolução silenciosa no sistema educativo. Uma revolução que, ironicamente, acontece no espaço entre um respiro e outro, no silêncio que precede a aprendizagem, no momento em que alunos e professores descobrem que, por vezes, o mais importante não é acrescentar mais conhecimento, mas sim criar espaço para o que já existe.

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