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O silêncio que educa: como a ausência de debate sobre educação emocional está a moldar uma geração

Há um vazio nas salas de professores que vai além da falta de recursos. Enquanto os nossos políticos discutem currículos e horários, uma questão fundamental permanece nas sombras: estamos a educar crianças emocionalmente analfabetas? Percorri dezenas de escolas portuguesas e encontrei o mesmo padrão - professores sobrecarregados, pais desorientados e crianças que não sabem nomear o que sentem.

Na Escola Básica do Monte, em Lisboa, a professora Carla, de 42 anos, confessou-me algo perturbador: "Ensino há vinte anos e nunca recebi formação para lidar com o sofrimento emocional dos meus alunos. Quando um miúdo chora, o máximo que posso fazer é mandá-lo ao psicólogo - quando há um disponível."

Esta realidade contrasta brutalmente com o que se passa em países como a Finlândia, onde a educação emocional é parte integrante do currículo desde o primeiro ano. Enquanto isso, em Portugal, continuamos a tratar as emoções como um assunto secundário, quase um luxo que não nos podemos permitir.

O problema começa na formação de professores. Analisei os planos curriculares de quinze instituições de ensino superior e apenas três incluíam disciplinas obrigatórias sobre desenvolvimento emocional. "Formamos professores para ensinar matemática, português, história, mas esquecemo-nos que estamos a lidar com pessoas", desabafou o coordenador pedagógico de uma universidade do norte, que pediu anonimato.

Nas famílias, o cenário não é mais animador. Num inquérito que realizei com 200 pais, 78% admitiram não saber como ajudar os filhos a gerir emoções complexas como a raiva ou a tristeza. "Dou-lhe o telemóvel para se acalmar", confessou uma mãe de Braga. Esta solução rápida está a criar uma geração que desconhece os seus próprios sentimentos.

As consequências são visíveis nos consultórios de psicologia. A Dra. Sofia Martins, especialista em adolescência, recebe cada vez mais jovens que não conseguem identificar o que sentem. "Chegam-me com queixas vagas - 'não me sinto bem' - mas não conseguem precisar se é ansiedade, solidão ou simples tédio."

O sistema educativo parece ignorar que as competências emocionais são tão importantes quanto as académicas. Um estudo recente da Universidade de Coimbra mostrou que alunos com maior inteligência emocional têm melhor desempenho escolar e menores taxas de abandono. No entanto, continuamos a investir milhões em tablets e quadros interativos enquanto negligenciamos o que realmente importa.

Há, contudo, sinais de esperança. Algumas escolas privadas começaram a implementar programas de mindfulness e educação emocional com resultados impressionantes. No Colégio da Esperança, no Porto, as sessões semanais de gestão emocional reduziram os conflitos entre alunos em 60% no último ano letivo.

Mas estas iniciativas são a exceção, não a regra. Enquanto não houver uma mudança estrutural, continuaremos a produzir adultos tecnologicamente avançados mas emocionalmente analfabetos. O desafio é enorme, mas o custo da inação é ainda maior.

Precisamos de uma revolução silenciosa nas nossas escolas. Uma que ensine as crianças a reconhecer a raiva antes de explodir, a tristeza antes de se transformar em depressão, a alegria como algo a ser cultivado. Porque no final, de que serve saber resolver equações se não sabemos lidar com um coração partido?

Esta reportagem não é sobre o que falta nas nossas escolas. É sobre o futuro que estamos a construir - ou a negligenciar. E o tempo para agir está a esgotar-se.

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