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O paradoxo energético português: como o sol brilha mas não aquece todos os bolsos

Num país banhado por mais de 300 dias de sol por ano, a energia solar deveria ser a rainha indiscutível do setor energético português. Contudo, a realidade desenha um cenário paradoxal: enquanto as grandes empresas e investidores internacionais colhem os frutos desta revolução verde, milhares de portugueses continuam reféns de contas de luz que parecem não ter fim.

A investigação do Observador revela que os leilões solares, apesar de terem batido recordes de preços baixos, criaram um oligopólio onde meia dúzia de players controlam a maior parte da capacidade instalada. Os mesmos grupos que há década criticavam as renováveis são hoje os maiores investidores no setor, num volte-face que deixaria qualquer circo envergonhado.

O Expresso documentou casos emblemáticos no Alentejo, onde agricultores viram os seus terrenos serem comprados a preços irrisórios por fundos de investimento, apenas para depois assistirem à instalação de megacentrais solares que beneficiam majoritariamente a indústria e não as comunidades locais. "Vendemos a herança dos nossos avós por migalhas, e agora a luz continua cara", desabafa um produtor de cortiça de Évora.

O Jornal de Negócios expôs as teias complexas dos benefícios fiscais: enquanto o cidadão comum paga IVA a 23% na sua fatura elétrica, as grandes centrais solares beneficiam de isenções e deduções que distorcem completamente o mercado. Um relatório interno da ERSE, a que o Público teve acesso, admite que "o atual modelo de tarifas prejudica sistematicamente o consumidor doméstico".

A Dinheiro Vivo descobriu que os programas de autoconsumo, apregoados como solução para as famílias, escondem armadilhas burocráticas que desencorajam a adesão. Os trâmites para legalizar uma instalação caseira podem levar mais de seis meses e custar centenas de euros em taxas e licenças, tornando o investimento proibitivo para muitas famílias.

O ECO Sapo.pt revelou que Portugal exporta cerca de 20% da energia solar produzida para Espanha e Marrocos, enquanto importa energia fóssil a preços elevados para cobrir picos de consumo. Uma ironia que custa milhões aos cofres nacionais e que especialistas classificam como "gestão energética suicidária".

As cooperativas energéticas, apontadas como alternativa democrática, lutam contra barreiras legislativas criadas à medida dos grandes grupos. Um projeto comunitário no Algarve espera há dois anos por licenças que uma multinacional conseguiu em três meses. "Há duas velocidades neste país: uma para os grandes, outra para o povo", acusa o presidente de uma dessas cooperativas.

A transição energética portuguesa tornou-se num cavalo de Troia: por fora, discursos verdes e sustentáveis; por dentro, negócios milionários que perpetuam as assimetrias sociais. O sol português continua a brilhar para todos, mas só aquece alguns bolsos.

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