Seguros

Energia

Serviços domésticos

Telecomunicações

Saúde

Segurança Doméstica

Energia Solar

Seguro Automóvel

Aparelhos Auditivos

Créditos

Educação

Paixão por carros

Seguro de Animais de Estimação

Blogue

O paradoxo energético português: como o sol brilha forte mas a revolução solar ainda não chegou ao consumidor

Num país onde o sol é quase um recurso nacional, com mais de 300 dias de sol por ano em muitas regiões, Portugal continua a nadar contra a maré da transição energética. Enquanto os grandes projetos solares florescem pelo Alentejo e Algarve, o cidadão comum ainda olha para os painéis fotovoltaicos como um luxo distante, não como uma necessidade ao alcance da mão.

A verdade é que Portugal está a viver um paradoxo energético difícil de explicar. Por um lado, somos campeões europeus na produção de energia renovável, com dias em que quase 100% da eletricidade consumida vem de fontes limpas. Por outro, a energia solar residencial continua a ser um privilégio de poucos, presa num labirinto burocrático que desanima até os mais persistentes.

O que se passa nos bastidores desta revolução solar que teima em não chegar às varandas e telhados portugueses? A resposta pode estar nos interesses instalados que preferem manter o status quo. As grandes utilities energéticas têm investido massivamente em mega-parques solares, mas mostram-se menos entusiastas quando se trata de democratizar a produção descentralizada.

A burocracia é outra barreira intransponível para muitos. O processo de licenciamento de uma pequena instalação solar pode demorar meses, exigindo conhecimentos técnicos que a maioria dos cidadãos não possui. Enquanto na Alemanha ou na Holanda basta uma visita a um balcão único, em Portugal o cidadão tem de peregrinar por várias entidades, cada uma com os seus requisitos e prazos.

Os números não mentem: apenas cerca de 1% das habitações portuguesas têm painéis solares, um valor ridiculamente baixo quando comparado com países do norte da Europa, onde o sol é um bem mais escasso. Esta discrepância revela que o problema não é técnico nem climático, mas sim político e regulatório.

A recente crise energética, com preços a bater recordes históricos, deveria ter sido o empurrão definitivo para a adoção massiva da energia solar. No entanto, os portugueses continuam reféns das flutuações do mercado grossista, pagando facturas de luz que poderiam ser drasticamente reduzidas com um investimento relativamente modesto em autoconsumo.

As comunidades de energia renovável surgem como uma luz ao fundo do túnel, permitindo que vizinhos se juntem para investir em projetos coletivos. No entanto, estas iniciativas esbarram na mesma burocracia que afeta os projetos individuais, além de exigirem um nível de organização que nem sempre é fácil de conseguir.

O financiamento é outro obstáculo significativo. Apesar dos fundos europeus disponíveis, os bancos portugueses ainda olham para os empréstimos para energia solar como produtos de nicho, com taxas de juro que não refletem o baixo risco destes investimentos. Falta uma estratégia financeira agressiva que torne o solar acessível a todas as carteiras.

A indústria nacional de painéis solares poderia ser uma alavanca importante para a economia, mas continua subdesenvolvida. Enquanto importamos a maioria dos equipamentos da China, perdemos a oportunidade de criar empregos qualificados e desenvolver know-how tecnológico que poderia ser exportado.

Os benefícios vão muito além da poupança na factura da luz. A energia solar distribuída poderia aliviar a pressão sobre a rede elétrica nacional, especialmente durante os picos de consumo de verão, quando o ar condicionado faz disparar a procura precisamente quando o sol mais brilha.

A transição energética não pode ser apenas um assunto de especialistas e grandes empresas. Tem de chegar às ruas, aos bairros, às aldeias. Enquanto o sol continuar a ser visto como um recurso para gerar megawatts em larga escala, em vez de uma ferramenta de empoderamento dos cidadãos, estaremos a desperdiçar o nosso maior trunfo natural.

O futuro energético de Portugal passa inevitavelmente pelo sol. A questão que se coloca é se será um futuro concentrado nas mãos de poucos ou democratizado para benefício de todos. A resposta está nas mãos dos decisores políticos, mas também na capacidade dos portugueses exigirem o que é seu por direito: acesso à energia limpa e barata que o sol generosamente nos oferece.

Tags