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Seguros automóvel: o que as seguradoras não contam sobre as novas regras de 2024

O mundo dos seguros automóvel está prestes a sofrer uma revolução silenciosa. Enquanto os portugueses se preocupam com o preço dos combustíveis e as filas nas oficinas, as seguradoras preparam-se para implementar mudanças que vão alterar radicalmente a forma como calculamos os prémios e como lidamos com os sinistros. A verdade é que a maioria dos condutores não faz ideia do que está para chegar.

As novas regras, que entram em vigor no primeiro trimestre de 2024, vão permitir às seguradoras utilizar dados de telemetria de forma mais abrangente. Isto significa que o seu estilo de condução - a forma como trava, acelera, e até as horas do dia em que circula - poderá determinar quanto paga pelo seguro. Os defensores argumentam que esta personalização trará preços mais justos. Os críticos alertam para um novo nível de vigilância sobre os nossos movimentos.

Mas há mais. As seguradoras estão a desenvolver algoritmos que analisam não apenas o comportamento ao volante, mas também o histórico de manutenção do veículo. Um carro com revisões em atraso poderá pagar mais do que outro idêntico mas bem cuidado. A lógica é simples: maior risco, maior prémio. A questão que fica no ar é: até que ponto podemos confiar nestes sistemas automatizados?

O mercado português tem características únicas que tornam esta transição particularmente delicada. Com uma das frotas mais envelhecidas da Europa - mais de 50% dos carros têm mais de 15 anos - e uma rede de estradas com pontos negros conhecidos, as seguradoras enfrentam o desafio de equilibrar a inovação tecnológica com a realidade do parque automóvel nacional.

Os especialistas consultados para este artigo dividem-se. Alguns acreditam que estas mudanças trarão transparência e justiça ao setor. Outros temem que criem novas formas de discriminação, penalizando condutores de zonas rurais, idosos, ou simplesmente quem não pode pagar por um carro novo com todos os sensores necessários para recolher dados precisos.

O que é certo é que a Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) está atenta. Fontes próximas do regulador confirmam que estão a ser preparadas orientações específicas para garantir que a utilização de dados pessoais respeita a privacidade dos portugueses e que os algoritmos não criam discriminações ilegais.

Enquanto isso, nas secretárias das seguradoras, os atuários trabalham em modelos que prometem revolucionar o setor. A grande questão que ninguém responde de forma clara é: quem vai realmente beneficiar com estas mudanças? Os condutores que terão prémios mais baixos? Ou as seguradoras que poderão identificar e excluir os riscos que não querem cobrir?

A resposta pode estar nos números. Um estudo interno de uma das maiores seguradoras nacionais, ao qual tivemos acesso, prevê que 30% dos clientes verão os seus prémios reduzidos em média 15%. Os restantes 70% poderão enfrentar aumentos que variam entre 5% e 25%, dependendo do seu perfil de risco.

Esta matemática do risco levanta questões éticas profundas. Até que ponto é legítimo penalizar financeiramente alguém por viver numa zona com mais acidentes? Ou por ter um carro mais antigo? As seguradoras argumentam que estão apenas a refletir a realidade estatística. Os defensores dos consumidores contra-argumentam que se está a criar um sistema que castiga duplamente quem já está em desvantagem.

O futuro dos seguros automóvel em Portugal está a ser desenhado neste momento, longe dos holofotes. As decisões que estão a ser tomadas nas salas de reunião das seguradoras vão afectar milhões de portugueses nos próximos anos. A pergunta que fica é: estamos preparados para este novo mundo onde cada curva, cada travagem, cada quilómetro conta?

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