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Seguro automóvel: o que os portugueses não sabem (e as seguradoras não contam)

Nas estradas portuguesas, circulam mais de seis milhões de veículos. Cada um deles tem um seguro obrigatório, mas quantos condutores realmente compreendem o que está escrito nas letras pequenas do contrato? A verdade é que a maioria assina o documento sem questionar, confiando que está protegida em caso de acidente. No entanto, uma investigação aprofundada revela lacunas preocupantes na cobertura que muitos portugueses pensam ter.

Os peritos alertam para uma prática crescente: as apólices de baixo custo que prometem o mundo, mas que na realidade oferecem uma rede de segurança cheia de buracos. Desde franquias escondidas em parágrafos quase ilegíveis até exclusões de cobertura para determinados tipos de acidentes, os consumidores são frequentemente surpreendidos quando mais precisam da proteção que pagaram religiosamente todos os meses.

Um dos segredos mais bem guardados do setor é a variação brutal nos preços praticados para perfis idênticos de condutores. Dois vizinhos, com a mesma idade, o mesmo carro e histórico limpo, podem pagar diferenças superiores a 200 euros anuais pela mesma cobertura básica. Esta disparidade não se explica apenas pela concorrência, mas por algoritmos de precificação que analisam desde o código postal até aos hábitos de consumo revelados nas redes sociais.

A revolução tecnológica está a transformar silenciosamente o mercado dos seguros automóveis. As caixas pretas, ou dispositivos de telemetria, monitorizam cada aceleração, cada travagem e cada curva. Em troca de descontos aparentemente generosos, os condutores entregam às seguradoras um mapa detalhado dos seus movimentos. O que acontece com estes dados? São partilhados com terceiros? A legislação portuguesa ainda não acompanhou esta evolução, deixando os consumidores numa zona cinzenta entre conveniência e privacidade.

Nos últimos anos, surgiram novas modalidades que prometem flexibilidade, como os seguros por quilómetro ou por utilização. Estas opções parecem ideais para quem trabalha remotamente ou utiliza pouco o carro, mas escondem armadilhas. Muitos condutores descobrem, demasiado tarde, que exceder os quilómetros contratados pode significar pagamentos extras exorbitantes ou mesmo a anulação da cobertura em caso de sinistro.

O momento do sinistro é quando a teoria colide com a prática. As vítimas de acidentes relatam processos de reclamação que se arrastam por meses, exigindo documentação interminável e enfrentando avaliações contraditórias dos peritos. Em muitos casos, as seguradoras aproveitam-se do desespero e cansaço dos clientes para oferecer indemnizações abaixo do valor de mercado, contando com a pressão financeira para forçar aceitações precipitadas.

A sustentabilidade entrou no vocabulário das seguradoras, com promessas de apólices 'verdes' e compensações de carbono. No entanto, uma análise aos fundos onde são investidos os prémios revela que muitas empresas continuam a financiar indústrias poluentes. O marketing ecológico nem sempre corresponde a uma mudança real nas práticas de investimento do setor.

Para os condutores mais jovens, o cenário é particularmente desafiante. As taxas praticadas para menores de 25 anos atingem valores proibitivos, criando uma geração que adia a compra do primeiro carro ou que circula sem a cobertura adequada. Esta penalização etária baseia-se em estatísticas gerais que não consideram os históricos individuais, perpetuando um ciclo de exclusão automóvel.

A digitalização trouxe agilidade na contratação, mas também criou novos riscos. As fraudes online, com websites falsos que imitam companhias legítimas, multiplicaram-se. Centenas de portugueses são enganados anualmente, pagando prémios a empresas fantasmas que desaparecem quando chega a hora de honrar as coberturas prometidas.

O futuro dos seguros automóveis em Portugal dependerá da capacidade de equilibrar inovação com proteção real do consumidor. Enquanto as inteligências artificiais prometem avaliações instantâneas de sinistros e os carros autónomos desafiam os conceitos tradicionais de responsabilidade, o cidadão comum continua a precisar de clareza, transparência e justiça num setor que toca a vida de milhões de famílias portuguesas.

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