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Seguro automóvel: o que as seguradoras não querem que saiba sobre os preços

O mercado de seguros automóveis em Portugal vive um paradoxo intrigante. Enquanto as seguradoras anunciam descontos e campanhas promocionais, os portugueses continuam a sentir o peso das mensalidades no orçamento familiar. A verdade por trás dos preços dos seguros é mais complexa do que os folhetos publicitários sugerem.

A primeira revelação chocante vem dos algoritmos de precificação. As seguradoras utilizam sistemas de inteligência artificial que analisam mais de 200 variáveis para determinar o prémio de cada cliente. Não se trata apenas da idade, experiência de condução ou histórico de sinistros. Estes sistemas avaliam desde o código postal até aos hábitos de consumo, passando pelo tipo de emprego e até o modelo específico do telemóvel usado para fazer a simulação online.

Os dados recolhidos através das apps de telemóvel e dos sistemas de connected car estão a revolucionar a forma como as seguradoras calculam o risco. Um condutor que faça muitas viagens noturnas em autoestrada pode pagar mais do que alguém que circule apenas durante o dia em estradas municipais, mesmo que tenham exatamente o mesmo perfil em termos de idade e experiência.

A guerra silenciosa entre as seguradoras e as oficinas é outro capítulo pouco conhecido desta história. As seguradoras pressionam cada vez mais as oficinas para usar peças de qualidade inferior ou recondicionadas, alegando preocupações ambientais. No entanto, a verdadeira motivação é económica: peças mais baratas significam custos de reparação mais baixos e maiores margens de lucro.

Os portugueses desconhecem que têm direito a escolher a oficina onde o seu veículo será reparado após um acidente. Muitas seguradoras criam obstáculos burocráticos para desencorajar esta opção, preferindo direcionar os clientes para as suas redes de oficinas parceiras onde conseguem controlar melhor os custos.

A questão dos franquias merece especial atenção. As seguradoras têm vindo a aumentar progressivamente os valores das franquias, transferindo mais risco para os clientes. O que poucos sabem é que é possível negociar estes valores, especialmente para condutores com bons históricos de condução.

Os seguros automóveis estão a tornar-se produtos cada vez mais personalizados, mas esta personalização tem um preço. Os sistemas de telemetria instalados nos veículos monitorizam tudo: desde a aceleração e travagem até aos horários de circulação. Estes dados são depois usados para calcular prémios individuais, criando um sistema onde cada condutor paga exatamente pelo risco que representa.

A digitalização trouxe conveniência, mas também novos desafios. Muitos portugueses idosos ou menos familiarizados com a tecnologia estão a ser penalizados por não conseguirem aceder aos descontos exclusivos online. Esta discriminação digital está a criar uma nova forma de exclusão no acesso a serviços financeiros essenciais.

As apólices de seguros tornaram-se documentos cada vez mais complexos, com cláusulas escritas em linguagem técnica que muitos clientes não compreendem completamente. As seguradoras aproveitam-se desta complexidade para incluir exclusões e limitações que só são descobertas quando ocorre um sinistro.

A concorrência no sector é feroz, mas os preços mantêm-se elevados. Isto deve-se em parte aos custos crescentes com a reparação automóvel. Os veículos modernos, com a sua eletrónica complexa e materiais especializados, são significativamente mais caros de reparar do que os modelos antigos.

A inflação tem sido usada como justificação para aumentos de prémios, mas a realidade é mais complexa. Enquanto os custos das seguradoras aumentaram cerca de 8% nos últimos dois anos, os prémios subiram em média 15% no mesmo período. Esta discrepância revela que as seguradoras estão a usar a inflação como desculpa para aumentar as suas margens de lucro.

Os seguros automóveis estão a tornar-se menos sobre proteção e mais sobre gestão de risco financeiro. As seguradoras investem milhões em sistemas preditivos que lhes permitem identificar com precisão os clientes mais rentáveis e afastar os que representam maior risco.

A regulamentação do sector precisa de acompanhar estas transformações. Os consumidores precisam de mais transparência sobre como os seus prémios são calculados e de proteção contra práticas discriminatórias baseadas em dados pessoais.

O futuro dos seguros automóveis passa por uma maior personalização, mas também por uma maior responsabilização das seguradoras. Os consumidores precisam de entender que estão a comprar não apenas proteção contra acidentes, mas também um serviço de gestão de risco que deve ser justo e transparente.

A próxima vez que fizer uma simulação de seguro automóvel, lembre-se: por trás do preço apresentado está um complexo sistema de análise de dados que vai muito além do seu histórico de condução. Conhecer estes mecanismos é o primeiro passo para conseguir um seguro que seja realmente adequado às suas necessidades e ao seu bolso.

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