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Seguro automóvel: o que as seguradoras não contam sobre os seus preços

Num país onde o seguro automóvel é obrigatório, poucos condutores compreendem realmente como funciona a máquina de calcular prémios. Entre algoritmos secretos, dados ocultos e critérios que parecem saídos de um romance de ficção científica, a verdade é que pagamos muito mais do que devíamos – e as seguradoras sabem disso.

Os preços dos seguros automóveis em Portugal têm subido consistentemente acima da inflação, mas a justificação para esses aumentos raramente é transparente. Enquanto as seguradoras apontam para o crescimento dos sinistros ou dos custos de reparação, escondem uma realidade mais complexa: usam dados que vão muito além da nossa história de condução.

Sabia que o seu código postal pode aumentar o seu prémio em 30%? Ou que o modelo do seu carro, mesmo sendo considerado seguro em testes de colisão, pode ser classificado como 'de alto risco' por causa de estatísticas de roubo? Estas variáveis, muitas vezes desconhecidas dos consumidores, são a base de um sistema que privilegia o lucro sobre a justiça.

A investigação revela que as seguradoras utilizam mais de cinquenta fatores diferentes para calcular o preço do seu seguro. Desde a sua profissão (sim, os arquitetos pagam menos que os jornalistas) até ao seu histórico de crédito, passando pelo tipo de combustível do seu carro. E o pior: muitos destes critérios não têm qualquer relação comprovada com o risco real de sinistro.

Mas há esperança. A nova diretiva europeia sobre seguros, que entra em vigor no próximo ano, obrigará a uma maior transparência nos critérios de cálculo. As seguradoras terão de justificar porque é que determinado fator influencia o preço – e os consumidores poderão contestar essas justificações.

Enquanto isso, os condutores portugueses continuam a pagar alguns dos prémios mais altos da Europa. A média nacional ronda os 300 euros anuais, mas há casos de condutores jovens em Lisboa a pagarem mais de 1000 euros por um seguro básico. Um valor desproporcionado quando comparado com os 150 euros médios em países como a Polónia.

O segredo está na concorrência – ou na falta dela. Em Portugal, três grupos seguradores controlam mais de 60% do mercado, criando um oligopólio que mantém os preços artificialmente altos. As comparações online, que prometem transparência, muitas vezes escondem comissões elevadas e não mostram todas as opções disponíveis.

E o que dizer dos descontos por fidelidade? São uma ilusão. Estudos mostram que os clientes que mudam de seguradora a cada dois anos poupam em média 20% face aos que permanecem leais. As seguradoras contam com a nossa preguiça – e com a complexidade do processo de mudança – para nos manter presos a contratos desvantajosos.

A solução passa por uma atitude mais proativa. Negociar o preço, comparar ofertas anualmente e questionar cada aumento são estratégias que podem resultar em poupanças significativas. Alguns especialistas sugerem até criar um 'clube de compras' com amigos ou colegas para negociar condições em grupo.

O futuro dos seguros automóveis poderá ser radicalmente diferente. Com a chegada dos seguros 'pay-as-you-drive' (pague conforme conduz) e a utilização de telemetria para avaliar o estilo de condução, estamos à beira de uma revolução. Mas será que estas novas tecnologias trarão justiça ou apenas novas formas de discriminação?

Enquanto aguardamos por respostas, uma coisa é certa: o silêncio das seguradoras sobre os seus métodos de cálculo está a custar milhões aos bolsos dos portugueses. E esse silêncio, finalmente, está a ser questionado.

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