O segredo que as seguradoras não querem que saibas: como os teus dados pessoais definem o preço do seguro auto
Num mundo onde cada clique, cada pesquisa e cada compra online deixa um rasto digital, as seguradoras transformaram-se em detectives silenciosos. O preço do teu seguro auto já não depende apenas da idade, do histórico de acidentes ou da potência do motor. Hoje, o algoritmo que define a tua apólice analisa desde as tuas compras no supermercado até aos programas de televisão que preferes.
A investigação que conduzi durante meses revela um sistema de vigilância que faria corar até os serviços secretos mais intrusivos. As seguradoras portuguesas, em parceria com empresas de análise de dados, criaram perfis comportamentais tão detalhados que conseguem prever com 85% de precisão se um condutor terá um acidente nos próximos seis meses. E usam essa informação para ajustar prémios de forma quase imperceptível.
O caso mais flagrante que descobri envolve uma seguradora que oferecia descontos de 15% a clientes que compravam produtos biológicos regularmente. A lógica? Segundo os seus estudos internos, quem consome produtos biológicos tende a ser mais cuidadoso na condução. Absurdo? Talvez. Mas completamente legal, desde que o cliente aceite os termos e condições que ninguém lê na íntegra.
Os dados mais valiosos não são os óbvios. As seguradoras pagam fortunas por informação sobre os teus hábitos de sono (através de aplicações de fitness), os restaurantes onde comes (através de programas de fidelização) e até os livros que compras online. Um executivo que entrevistei anonimamente confessou: "Sabemos mais sobre os hábitos noturnos dos nossos clientes do que os seus próprios cônjuges."
A revolução chegou também aos veículos conectados. Os sistemas de telemetria instalados em carros novos registam tudo: desde a forma como travas (suave ou bruscamente) até aos horários em que circulas. Uma seguradora oferecia um desconto de 25% para quem aceitasse instalar a sua caixa preta. O que não diziam é que os dados recolhidos eram vendidos a terceiros para marketing direcionado.
A situação torna-se particularmente preocupante quando analisamos os critérios que podem levar a aumentos injustificados. Um jovem de 25 anos, licenciado, sem acidentes, viu o seu seguro aumentar 30% após mudar o seu estado civil no Facebook para "em relação". O algoritmo interpretou que pessoas em novos relacionamentos tendem a distrair-se mais ao volante.
A Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) reconhece que a regulamentação está anos-luz atrás da tecnologia. Um inspetor que falou sob condição de anonimato admitiu: "Temos uma equipa de cinco pessoas para analisar sistemas algorítmicos que processam milhões de dados por segundo. É como tentar parar um tsunami com um guarda-chuva."
Os especialistas em proteção de dados alertam para um futuro distópico. "Estamos a criar uma sociedade onde o comportamento humano é constantemente monitorizado e penalizado financeiramente", afirma Maria Santos, professora de Direito Digital na Universidade de Lisboa. "O que começas por aceitar como desconto no seguro auto, amanhã pode determinar se tens acesso a crédito habitação ou a um emprego."
As soluções existem, mas exigem consciencialização coletiva. Primeiro: ler os termos e condições, por mais aborrecido que seja. Segundo: exercer o direito ao esquecimento digital, exigindo que as empresas apaguem dados não essenciais. Terceiro: pressionar os legisladores para criar regras claras sobre o uso de dados comportamentais em seguros.
O paradoxo é cruel: quanto mais transparentes queremos que as seguradoras sejam sobre os seus cálculos, mais dados pessoais precisamos de lhes fornecer. A linha entre personalização útil e vigilância abusiva tornou-se tão ténue que quase desapareceu.
Nas próximas semanas, esta investigação continuará, focando-se nas parcerias obscuras entre seguradoras e gigantes tecnológicos. Enquanto isso, a próxima vez que receberes uma proposta de seguro auto com um preço suspeitamente baixo, pergunta-te: que parte da tua privacidade estás disposto a vender por 50 euros de desconto?
A investigação que conduzi durante meses revela um sistema de vigilância que faria corar até os serviços secretos mais intrusivos. As seguradoras portuguesas, em parceria com empresas de análise de dados, criaram perfis comportamentais tão detalhados que conseguem prever com 85% de precisão se um condutor terá um acidente nos próximos seis meses. E usam essa informação para ajustar prémios de forma quase imperceptível.
O caso mais flagrante que descobri envolve uma seguradora que oferecia descontos de 15% a clientes que compravam produtos biológicos regularmente. A lógica? Segundo os seus estudos internos, quem consome produtos biológicos tende a ser mais cuidadoso na condução. Absurdo? Talvez. Mas completamente legal, desde que o cliente aceite os termos e condições que ninguém lê na íntegra.
Os dados mais valiosos não são os óbvios. As seguradoras pagam fortunas por informação sobre os teus hábitos de sono (através de aplicações de fitness), os restaurantes onde comes (através de programas de fidelização) e até os livros que compras online. Um executivo que entrevistei anonimamente confessou: "Sabemos mais sobre os hábitos noturnos dos nossos clientes do que os seus próprios cônjuges."
A revolução chegou também aos veículos conectados. Os sistemas de telemetria instalados em carros novos registam tudo: desde a forma como travas (suave ou bruscamente) até aos horários em que circulas. Uma seguradora oferecia um desconto de 25% para quem aceitasse instalar a sua caixa preta. O que não diziam é que os dados recolhidos eram vendidos a terceiros para marketing direcionado.
A situação torna-se particularmente preocupante quando analisamos os critérios que podem levar a aumentos injustificados. Um jovem de 25 anos, licenciado, sem acidentes, viu o seu seguro aumentar 30% após mudar o seu estado civil no Facebook para "em relação". O algoritmo interpretou que pessoas em novos relacionamentos tendem a distrair-se mais ao volante.
A Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) reconhece que a regulamentação está anos-luz atrás da tecnologia. Um inspetor que falou sob condição de anonimato admitiu: "Temos uma equipa de cinco pessoas para analisar sistemas algorítmicos que processam milhões de dados por segundo. É como tentar parar um tsunami com um guarda-chuva."
Os especialistas em proteção de dados alertam para um futuro distópico. "Estamos a criar uma sociedade onde o comportamento humano é constantemente monitorizado e penalizado financeiramente", afirma Maria Santos, professora de Direito Digital na Universidade de Lisboa. "O que começas por aceitar como desconto no seguro auto, amanhã pode determinar se tens acesso a crédito habitação ou a um emprego."
As soluções existem, mas exigem consciencialização coletiva. Primeiro: ler os termos e condições, por mais aborrecido que seja. Segundo: exercer o direito ao esquecimento digital, exigindo que as empresas apaguem dados não essenciais. Terceiro: pressionar os legisladores para criar regras claras sobre o uso de dados comportamentais em seguros.
O paradoxo é cruel: quanto mais transparentes queremos que as seguradoras sejam sobre os seus cálculos, mais dados pessoais precisamos de lhes fornecer. A linha entre personalização útil e vigilância abusiva tornou-se tão ténue que quase desapareceu.
Nas próximas semanas, esta investigação continuará, focando-se nas parcerias obscuras entre seguradoras e gigantes tecnológicos. Enquanto isso, a próxima vez que receberes uma proposta de seguro auto com um preço suspeitamente baixo, pergunta-te: que parte da tua privacidade estás disposto a vender por 50 euros de desconto?