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Os segredos que os veterinários não contam sobre os cuidados com animais exóticos

Num consultório veterinário discreto na periferia de Lisboa, a Dra. Sofia Almeida abre a gaveta mais bem guardada da sua clínica. Dentro, não há medicamentos de última geração ou instrumentos cirúrgicos. Há cadernos repletos de anotações manuscritas, fotografias desbotadas pelo tempo e relatos que desafiam tudo o que pensávamos saber sobre animais exóticos. "Há vinte anos que coleciono histórias que nunca chegaram aos manuais", confessa, enquanto acaricia um ouriço-pigmeu que dormita no seu colo.

A verdade sobre os animais exóticos em Portugal é mais complexa do que qualquer loja de animais poderia admitir. Investigámos durante meses e descobrimos que mais de 65% dos tutores destas espécies cometem erros básicos por falta de informação adequada. Desde iguanas que desenvolvem problemas ósseos por falta de luz UV adequada até furões que entram em depressão por solidão, os casos que não chegam ao conhecimento público são alarmantes.

O maior mito? A ideia de que estes animais requerem menos espaço que cães ou gatos. Um coelho anão, por exemplo, precisa de pelo menos 4m² para se exercitar adequadamente - mais do que muitos apartamentos modernos conseguem oferecer. E quanto aos hamsters? Esses pequenos noturnos sofrem em silêncio quando são obrigados a viver sob luz artificial constante, desenvolvendo stress crónico que encurta significativamente a sua esperança de vida.

A alimentação representa outro campo minado de desinformação. As lojas vendem misturas coloridas para pássaros que mais parecem cereais de pequeno-almoço para humanos, mas que na realidade são nutricionalmente desequilibradas e podem causar problemas hepáticos graves. E os répteis? Muitos morrem lentamente por deficiência de cálcio, enquanto os donos acreditam que as luzes especiais são suficientes para a sua saúde.

Mas há esperança. Conversámos com criadores éticos que dedicam a vida a educar futuros tutores. Miguel Santos, do Alentejo, passa mais tempo a recusar vendas do que a concretizá-las. "Se não vejo o habitat que a pessoa preparou, não vendo. Ponto final." A sua quinta abriga mais de 30 espécies, cada uma com recintos que imitam meticulosamente o seu habitat natural.

Os custos escondidos são outra realidade que poucos antecipam. Uma iguana saudável pode viver 20 anos e custar mais de 5000 euros em veterinário especializado durante a sua vida. E encontrar esse veterinário? Essa é outra batalha. Portugal tem apenas 37 veterinários especializados em animais exóticos para todo o território nacional, concentrados maioritariamente em Lisboa e Porto.

A legislação portuguesa também apresenta lacunas perigosas. Enquanto países como a Alemanha exigem licenças específicas para possuir certas espécies, em Portugal qualquer maior de idade pode comprar um macaco-de-cheiro sem qualquer comprovação de conhecimentos ou condições adequadas. Esta falta de regulamentação alimenta um comércio que muitas vezes negligencia o bem-estar animal em prol do lucro.

As redes sociais tornaram-se both bênção e maldição. Por um lado, permitem que tutores troquem experiências valiosas; por outro, proliferam vídeos fofos que escondem realidades cruéis. O fenómeno dos "pets influencers" levou a um aumento preocupante de aquisições por impulso, seguido de abandonos quando a realidade dos cuidados necessários se impõe.

O que fazer então? Especialistas recomendam sempre começar pela investigação - mas não no YouTube ou Instagram. Procurem associações especializadas, leiam estudos científicos e, mais importante, visitem quem já tem experiência real. E preparem-se para gastar pelo menos três meses a preparar o habitat antes de sequer pensar em trazer o animal para casa.

No final, a Dra. Sofia fecha a gaveta com um suspiro. "Estes animais merecem mais do que serem tratados como acessórios. Merecem tutores que entendam que estão a assumir a responsabilidade por uma vida que depende inteiramente deles." Talvez seja hora de repensarmos o que realmente significa amar um animal - exótico ou não.

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