Seguros

Energia

Serviços domésticos

Telecomunicações

Saúde

Segurança Doméstica

Energia Solar

Seguro Automóvel

Aparelhos Auditivos

Créditos

Educação

Paixão por carros

Seguro de Animais de Estimação

Blogue

Seguros em Portugal: o que os jornais não contam sobre as novas regras e os segredos das apólices

Num país onde o seguro automóvel é obrigatório e o de saúde se tornou quase um bem de primeira necessidade, os portugueses continuam a assinar contratos sem perceber as letras pequenas. Enquanto os media tradicionais se focam nas subidas de prémios ou nas campanhas publicitárias das seguradoras, há histórias por contar nos bastidores deste mercado que movimenta milhares de milhões.

Nos últimos meses, várias alterações legislativas passaram quase despercebidas. A nova diretiva da União Europeia sobre distribuição de seguros, que entrou em vigor discretamente, está a mudar a forma como os mediadores são remunerados. Já não recebem comissões diretas das seguradoras, mas sim honorários dos clientes. O que parece uma mudança técnica tem implicações profundas: os conselhos que recebemos sobre que seguro escolher podem estar menos enviesados, mas também mais caros.

Nos gabinetes das seguradoras, os atuários trabalham com dados que poucos cidadãos imaginam. Sabiam que o seu código postal pode influenciar o preço do seguro de casa em até 30%? Ou que ter um cão de certas raças pode aumentar o prémio do seguro de responsabilidade civil? Estas variáveis, calculadas através de algoritmos complexos, criam perfis de risco que determinam quanto pagamos.

A revolução digital chegou aos seguros com promessas de personalização. As apólices pay-as-you-drive, que monitorizam a condução através de uma aplicação no telemóvel, oferecem descontos a quem conduz menos ou de forma mais segura. Mas há um preço para esta conveniência: a privacidade. Cada travagem brusca, cada aceleração, cada quilómetro percorrido fica registado. Dados valiosíssimos que as seguradoras podem usar não apenas para ajustar prémios, mas para criar novos produtos.

Nos seguros de saúde, a situação é ainda mais complexa. As exclusões por condições pré-existentes continuam a ser a norma, mesmo quando a lei tenta limitá-las. Um diagnóstico de diabetes ou hipertensão antes de contratar o seguro pode significar coberturas limitadas ou prémios proibitivos. E as listas de hospitais e clínicas convencionadas mudam com frequência, deixando os segurados com tratamentos marcados em instituições que deixaram de ser parceiras.

O mercado dos seguros de vida está a ser transformado pelos seguros ligados a fundos de investimento. Produtos híbridos que prometem proteção e rentabilidade, mas que escondem comissões de gestão elevadas e riscos que muitos não compreendem. Quando os mercados financeiros caem, o valor garantido pode ser muito inferior ao esperado.

Nas pequenas e médias empresas, o cenário é preocupante. Os seguros de crédito, essenciais para proteger contra incumprimentos, tornaram-se mais caros e restritivos. As seguradoras estão a reduzir a exposição a setores considerados de risco, como a restauração ou o turismo, precisamente quando mais precisam de proteção.

E depois há os seguros que quase ninguém tem, mas que deviam ser considerados. O seguro de responsabilidade civil profissional para freelancers, o seguro de cancelamento de viagens para quem viaja frequentemente, ou o seguro de proteção jurídica para quando precisamos de advogado. São produtos pouco conhecidos que podem evitar desastres financeiros.

A Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) tem aumentado a fiscalização, mas os recursos são limitados face à complexidade do setor. As queixas dos consumidores continuam a crescer, especialmente relacionadas com a lentidão no processamento de sinistros e com a comunicação de alterações contratuais.

O futuro traz novas ameaças e novas proteções. As alterações climáticas estão a tornar certas zonas do país quase seguradas, com as seguradoras a retirarem-se de áreas costeiras com risco de cheias. A cibersegurança é o novo campo de batalha, com apólices específicas para proteger empresas de ataques informáticos.

No meio de tudo isto, o conselho mais valioso pode ser o mais simples: ler o contrato. Não apenas o resumo que nos entregam, mas as condições gerais e particulares. Comparar não apenas preços, mas coberturas, franquias, limites e exclusões. E questionar sempre o que não está incluído, porque num seguro, o diabo está nos detalhes que faltam.

Os portugueses gastam em média mais de 1.000 euros por ano em seguros. É um investimento significativo que merece mais atenção do que a que normalmente lhe dedicamos. Num mundo cada vez mais imprevisível, a proteção adequada pode fazer a diferença entre um contratempo e uma catástrofe financeira. O desafio é encontrar o equilíbrio entre estar protegido a mais e pagar a mais por proteção desnecessária.

Esta é a realidade por trás das apólices que assinamos quase automaticamente. Um mundo de números, riscos e letras pequenas que afeta diretamente a nossa segurança financeira. E que, conhecendo melhor, podemos navegar com mais confiança e menos surpresas desagradáveis.

Tags