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Seguros em Portugal: o que as seguradoras não querem que saibas sobre os seus contratos

Num país onde quase todos temos pelo menos um seguro - automóvel, saúde, vida ou habitação - poucos são os que realmente compreendem as letras pequenas que assinam. As seguradoras portuguesas movimentam milhares de milhões anualmente, mas a transparência continua a ser uma miragem para muitos consumidores.

As exclusões escondidas nos contratos representam uma das maiores armadilhas para os portugueses. Desde danos causados por "atos de Deus" até situações tão comuns como inundações em caves durante o inverno, as seguradoras têm desenvolvido uma linguagem jurídica tão complexa que até os advogados especializados têm dificuldade em decifrar. Um estudo recente revelou que 78% dos portugueses não compreendem completamente o que está coberto nos seus seguros.

O setor dos seguros em Portugal tem assistido a uma transformação digital acelerada, mas nem sempre a favor do consumidor. As apps e plataformas online facilitam a contratação, mas tornam quase impossível o acesso a um representante humano quando surgem problemas. Muitos clientes descobrem demasiado tarde que compraram coberturas desnecessárias ou, pior, que lhes faltam proteções essenciais.

A batalha entre as seguradoras tradicionais e as insurtechs está a aquecer o mercado, prometendo preços mais baixos e serviços mais transparentes. No entanto, especialistas alertam que algumas destas novas empresas podem estar a comprometer a solidez financeira em troca de crescimento rápido, colocando em risco a capacidade de pagar sinistros no futuro.

Os seguros de saúde merecem uma análise particular. Com listas de espera no SNS a aumentarem ano após ano, cada vez mais portugueses recorrem ao privado. Mas os planos de saúde escondem limitações que só se revelam na hora da necessidade: copagamentos surpresa, limites em consultas de especialidade e exclusão de tratamentos considerados "experimentais".

No ramo automóvel, a situação não é mais animadora. As apólices mais baratas frequentemente excluem danos próprios em estacionamento ou limitam drasticamente a assistência em viagem. Muitos condutores só descobrem estas limitações quando tentam acionar o seguro após um acidente.

A regulação do setor tem sido alvo de críticas por parte das associações de consumidores. A ASF (Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões) tem poderes limitados para intervir em disputas entre seguradoras e clientes, deixando muitos consumidores à mercê de processos judiciais morosos e dispendiosos.

A digitalização trouxe também novos riscos. Os seguros cibernéticos estão a ganhar popularidade entre empresas, mas a maioria das apólices pessoais não cibe danos relacionados com crimes informáticos ou perda de dados. Num mundo cada vez mais conectado, esta lacuna pode revelar-se catastrófica para muitas famílias.

Os seguros de vida continuam a ser um dos produtos mais mal compreendidos. Muitos portugueses pagam prémios elevados por coberturas que, na prática, oferecem proteção limitada em caso de doença grave ou incapacidade permanente. As cláusulas de resgate antecipado frequentemente implicam perdas significativas do capital investido.

A habitação representa outro campo minado para os consumidores. Desde seguros multirriscos que não cobrem danos por humidade estrutural até coberturas contra catástrofes naturais com franquias proibitivas, os proprietários enfrentam um labirinto de opções onde é fácil cometer erros dispendiosos.

O futuro dos seguros em Portugal dependerá da capacidade do setor em tornar-se mais transparente e acessível. Enquanto isso, os consumidores devem adotar uma postura mais crítica e informada antes de assinar qualquer apólice. A educação financeira e o conhecimento dos direitos do consumidor são as únicas armas eficazes contra práticas comerciais questionáveis.

A próxima vez que receber uma proposta de seguro, lembre-se: o diabo está nos detalhes, e ninguém os conhece melhor do que as seguradoras.

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